quarta-feira, 28 de outubro de 2009

istván örkény vs alva noto

introdução aos contos de 1 minuto

eu gostaria de falar sobre os meus contos de 1 minuto, que
tipo de textos são estes, qual a sua particularidade, o seu
objectivo, etc.
então, primeiro, como o seu nome demonstra, são curtos.
duram meio ou um minuto, talvez um pouco mais. e como
são tão curtos, não é muito cansativo fazê-los.
talvez fosse melhor mostrar como se podem escrever contos
de um minuto. não é uma ocupação complicada, qualquer
pessoa que saiba ler e tenha bom gosto consegue aprender e,
depois de um pouco de exercício, se tiver uma meia hora livre,
senta-se e escreve alguns contos de um minuto. então, vamos
começar.
damos-lhe um título? qual? o título podia ser: conto de 1 mi-
nuto.
o resto vai de vento em popa.
agora vamos combinar de que tema trata o conto. sugiro que
não se gastemos tempo na procura de um tema. podemos es-
crever um conto de um minuto sobre qualquer coisa. sobre o
que acontece em casa, sobre o primeiro objecto que encon-
tramos por acaso, sobre a primeira coisa que nos passa pela
cabeça. porque, como numa gota que está no mar, em tudo o
que pensamos sentimos que está incluída a nossa vida intei-
ra. eu faço isto desta maneira há muitos anos e resultou mui-
to bem...
o resto é já brincadeira. agora só temos de ter cuidado para
sermos breves. isso também não é uma coisa difícil. devíamos
sempre pensar que o que sabemos também o sabem as outras
pessoas, que o que compreendemos qualquer outra pessoa é
capaz de compreender. portanto, não precisamos de falar mui-
to. a arte, em todo o caso, resume sempre, condensa. digamos,
por exemplo, que se alguém deseja comer canja, não compra a
sopa feita no supermercado, mas vai lá e compra um pequeno
cubo. leva-o para casa e faz uma sopa densa ou diluída, segun-
do o seu gosto.
do mesmo modo, o escritor condensa tudo o que tinha vivido e
pensado num pequeno cubo. o leitor também tem cabeça e
imaginação, que começam a funcionar logo que o escritor se
cala. temos de meter bem na cabeça que devemos evitar a in-
continência da linguagem.
façam o favor de ter presente isso quando começarem a escre-
ver contos de um minuto. o meu ponto de partida é que nós,
sempre que vivemos no mesmo país, e no mesmo século, te-
mos sonhos, grosso modo, idênticos. eu procurei sempre essa
coisa comum, o que é essencial, lembrado por todos. muitas
vezes uma só palavra é suficiente. uma só palavra pode ter,
efeito, tal como à noite, com um só toque, várias ruas ficam
iluminadas. às vezes penso que estes não são contos verdadei-
ros. se calhar devia dizer que eu só faço sinais. mas para fazer
sinais são precisas duas pessoas. uma que dá e a outra que re-
cebe. agora peço-lhes que abram a vossa imaginação perante
eles.

- istván örkény -
(histórias de 1 um minuto)


Photobucket

- alva noto -
(prototype 1)

2 comentários:

Filipa Júlio disse...

estava a pensar na ana de amsterdam (ou ana cássia rebelo), no luís januário e outros bloggers que tais, escritores de contos de um minuto com milénios lá dentro.

carlos veríssimo disse...

O cão passa 2 metros acima do que foi uma fossa comum e fareja. Pensa em mais ossos do que os que julga ser possível estarem juntos e convence-se que é produto da sua imaginação. Segue.
Um pouco mais à frente há duas árvores, uma maior e outra mais pequena. A mais pequena deita-se e o homem constrói a ponte enquanto o vento vai soprando imaginados dedos da saudade. Por trás da ponte o pano de fundo é transparente, e assim vê-se para além dela se quisermos. Montam lá uma feira e às tantas já ninguém vê a ponte. Em seguida deixam de lá passar e crescem ervas e depois arbustos. Um senhor presidente decide um dia arranjar a ponte e novos acessos, arrancando assim as ervas e os arbustos. Decidem que também é preciso arrancar a árvore grande mas esta tem raízes tão fundas que escavam tudo à sua volta encontrando assim a fossa comum. Investigam e procuram o responsável pelas mortes, que descobrem mais tarde para surpresa geral, que era o mesmo que constava na placa do nome dado à ponte. Contudo o mais surpreso de todos, era de facto o cão, que não confiou nos seus instintos.