harold broadkey
ele era o vencedor pois era aquele que há mais tempo
não sofria uma derrota. e que outros vencedores há?
de resto, se o teu dedo se move há uma montanha de
psicologia nele e apenas um mínimo de fisiologia. são os
argumentos e o modo como pensa, que sustenta o
homem, não são os ossos. interessam-te mais as vita-
minas ou a retórica?um homem sem discurso é mais
fraco que um homem sem cálcio no esqueleto.
tu tens uma opinião, mas eu tenho um soco. veremos
quem ganha.
- gonçalo m. tavares -
(biblioteca)
- les fragments de la nuit -
(assault)
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
harold pinter vs johann johannsson
poema
e todas as outras
desconfiadas agora
atentas às flores
e todas as outras
sem sorrir
lembrando outras
sorrindo nos jardins
atentas às flores
desconfiadas agora
que lembram outras
desconfiadas agora
apresentando flores
que lembram outras caras
lembrando outras
sem desconfiar pelos jardins
que apresentam os seus jardins
lembrando outras
que desconfiam das flores
- harold pinter -
- johann johannsson -
(melodia [i])
e todas as outras
desconfiadas agora
atentas às flores
e todas as outras
sem sorrir
lembrando outras
sorrindo nos jardins
atentas às flores
desconfiadas agora
que lembram outras
desconfiadas agora
apresentando flores
que lembram outras caras
lembrando outras
sem desconfiar pelos jardins
que apresentam os seus jardins
lembrando outras
que desconfiam das flores
- harold pinter -
- johann johannsson -
(melodia [i])
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quinta-feira, 26 de novembro de 2009
henri michaux vs hecq
a preguiça
a alma adora nadar. para nadar, há que deitar-se de barriga.
a alma despega-se e parte. parte a nadar. (se a vossa alma
parte quando estais de pé, ou sentados, ou de joelhos, ou a-
poiados nos cotovelos, para cada posição corporal diferente a
alma partirá com uma locomoção e uma forma diferentes,
segundo concluirei mais tarde).
fala-se muito em voar. não é isso. o que ela faz é nadar. e na-
da como as serpentes e as enguias , nunca de outro modo. há
imensa gente que tem assim uma alma que adora nadar.
chamam-lhes vulgarmente preguiçosos. quando a alma deixa
o corpo pelo ventre para nadar, produz-se uma tal liberta-
ção de sei lá o quê, é um abandono, um gozo, uma descontra-
ção tão íntima.
a alma parte a nadar no vão das escadas, ou na rua, consoan-
te a timidez ou a audácia do homem, porque ela conserva
sempre um fio que a une a ele, e se esse fio se quebrasse (às
vezes é muito fino, mas só uma força terrível o poderia rom-
per) seria terrível para eles (para ela e para ele).
então, quando ela está entretida a nadar ao longe, escoam-se,
por esse simples fio que liga o homem à alma, volumes e volu-
mes de uma espécie de matéria espiritual, como lama, como
mercúrio, ou como um gás - gozo interminável.
é por isso que o preguiçoso é incorrigível. nunca mudará. é
por isso que a preguiça é a mãe de todos os vícios. pois acaso
haverá coisa mais egoísta do que a preguiça?
tem fundamentos que o orgulho não tem.
mas as pessoas irritam-se com os preguiçosos.
quando os vêm deitados, batem-lhes, mandam-lhes água
fria à cabeça, eles têm de recolher a alma imediatamente.
olham-vos então com esse olhar de ódio, bem conhecido, que
se vê sobretudo nas crianças.
- henri michaux -
a alma adora nadar. para nadar, há que deitar-se de barriga.
a alma despega-se e parte. parte a nadar. (se a vossa alma
parte quando estais de pé, ou sentados, ou de joelhos, ou a-
poiados nos cotovelos, para cada posição corporal diferente a
alma partirá com uma locomoção e uma forma diferentes,
segundo concluirei mais tarde).
fala-se muito em voar. não é isso. o que ela faz é nadar. e na-
da como as serpentes e as enguias , nunca de outro modo. há
imensa gente que tem assim uma alma que adora nadar.
chamam-lhes vulgarmente preguiçosos. quando a alma deixa
o corpo pelo ventre para nadar, produz-se uma tal liberta-
ção de sei lá o quê, é um abandono, um gozo, uma descontra-
ção tão íntima.
a alma parte a nadar no vão das escadas, ou na rua, consoan-
te a timidez ou a audácia do homem, porque ela conserva
sempre um fio que a une a ele, e se esse fio se quebrasse (às
vezes é muito fino, mas só uma força terrível o poderia rom-
per) seria terrível para eles (para ela e para ele).
então, quando ela está entretida a nadar ao longe, escoam-se,
por esse simples fio que liga o homem à alma, volumes e volu-
mes de uma espécie de matéria espiritual, como lama, como
mercúrio, ou como um gás - gozo interminável.
é por isso que o preguiçoso é incorrigível. nunca mudará. é
por isso que a preguiça é a mãe de todos os vícios. pois acaso
haverá coisa mais egoísta do que a preguiça?
tem fundamentos que o orgulho não tem.
mas as pessoas irritam-se com os preguiçosos.
quando os vêm deitados, batem-lhes, mandam-lhes água
fria à cabeça, eles têm de recolher a alma imediatamente.
olham-vos então com esse olhar de ódio, bem conhecido, que
se vê sobretudo nas crianças.
- henri michaux -
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terça-feira, 24 de novembro de 2009
carlos de oliveira vs micachu
posto de gasolina
poiso a mão vagarosa no capô dos carros como se afagasse a
crina dum cavalo. vêm mortos de sede. julgo que se perderam
no deserto e o seu destino é apenas terem pressa. neste em-
prego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do
mundo a acelerar-se pouco a pouco. quem sou eu, no entanto,
que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os
sonhos de quem passa?
- carlos de oliveira -
poiso a mão vagarosa no capô dos carros como se afagasse a
crina dum cavalo. vêm mortos de sede. julgo que se perderam
no deserto e o seu destino é apenas terem pressa. neste em-
prego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do
mundo a acelerar-se pouco a pouco. quem sou eu, no entanto,
que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os
sonhos de quem passa?
- carlos de oliveira -
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009
gonçalo m. tavares vs alva noto
e.m. cioran
se a alma é uma víscera não quero pensar o que será deus.
o homem que quer destruir traz as mãos pesadas. o homem
que quer fugir traz os pés leves.
o homem que quer lutar traz pressa. o homem que quer
morrer encontrou o mundo certo.
- gonçalo m. tavares -
(biblioteca)
- alva noto -
(obi one [edit xs version])
se a alma é uma víscera não quero pensar o que será deus.
o homem que quer destruir traz as mãos pesadas. o homem
que quer fugir traz os pés leves.
o homem que quer lutar traz pressa. o homem que quer
morrer encontrou o mundo certo.
- gonçalo m. tavares -
(biblioteca)
- alva noto -
(obi one [edit xs version])
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affonso romano de sant'anna vs sven weisemann
o homem e sua sombra
um homem deixou de alimentar
a sombra que carregava. alegou razões de economia.
afinal para quê de sobejo levar algo que o duplicava?
sem sombra, pensou
melhor carregaria o que nele carregava.
equivocou-se. definhou.
descobriu, então, que a sombra o sustentava.
- affonso romano de sant'anna -
um homem deixou de alimentar
a sombra que carregava. alegou razões de economia.
afinal para quê de sobejo levar algo que o duplicava?
sem sombra, pensou
melhor carregaria o que nele carregava.
equivocou-se. definhou.
descobriu, então, que a sombra o sustentava.
- affonso romano de sant'anna -
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009
italo calvino vs johann sebastian bach
o diabo deve ser a carta que no meu ofício mais se encontra
com maior frequência: não será toda a matéria-prima do es-
crever um emergir de garras peludas, de mordeduras cani-
nas, de cornadas de cabra, violências impedidas que se deba-
tem nas trevas? mas isto pode-se ver de duas maneiras: que
este formigueiro demoníaco dentro das pessoas singulares e
plurais, nas coisas feitas ou que se julga feitas e nas palavras
ditas ou que se julga dizer, é uma maneira de fazer e de dizer
que não parece bem, e convém suprimir tudo, ou então que,
pelo contrário, é o que mais conta e já que existe será acon-
selhável fazê-lo aparecer; duas maneiras de ver as coisas
que depois por sua vez se misturam de variadas formas,
porque poderá acontecer que o negativo por exemplo seja
negativo mas necessário, pois sem ele, o positivo não é po-
sitivo, ou que não seja negativo de modo nenhum, enquanto
o único negativo quando muito é o que se julga positivo.
- italo calvino -
(taberna dos destinos cruzados)
- johan sebastian bach (keith jarrett) -
(goldberg variations [variation 16])
com maior frequência: não será toda a matéria-prima do es-
crever um emergir de garras peludas, de mordeduras cani-
nas, de cornadas de cabra, violências impedidas que se deba-
tem nas trevas? mas isto pode-se ver de duas maneiras: que
este formigueiro demoníaco dentro das pessoas singulares e
plurais, nas coisas feitas ou que se julga feitas e nas palavras
ditas ou que se julga dizer, é uma maneira de fazer e de dizer
que não parece bem, e convém suprimir tudo, ou então que,
pelo contrário, é o que mais conta e já que existe será acon-
selhável fazê-lo aparecer; duas maneiras de ver as coisas
que depois por sua vez se misturam de variadas formas,
porque poderá acontecer que o negativo por exemplo seja
negativo mas necessário, pois sem ele, o positivo não é po-
sitivo, ou que não seja negativo de modo nenhum, enquanto
o único negativo quando muito é o que se julga positivo.
- italo calvino -
(taberna dos destinos cruzados)
- johan sebastian bach (keith jarrett) -
(goldberg variations [variation 16])
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009
lajos egri vs murcof
rodin, o grande escultor francês, acabara a estátua de honore
de balzac. a figura usava um longo robe de longas mangas soltas.
as mãos estavam cruzadas na frente.
rodin afastou-se, exausto mas triunfante, e olhou para o seu tra-
balho com satisfação. era uma obra-prima. como qualquer artista,
precisava de alguém com quem partilhar a sua alegria.
embora fossem quatro da manhã, apressou-se a acordar um dos
seu alunos. o mestre foi à frente a correr com grande entusiasmo
e observou a reacção do jovem. os olhos do aluno lentamente se
focaram nas mãos. "fantástico!" gritou. "que mãos... mestre, nunca
vi mãos tão maravilhosas!" a cara de rodin escureceu. momentos
depois rodin saiu de novo do seu estúdio. passado pouco tempo
regressava com outro aluno a reboque. a reacção foi quase a mes-
ma. enquanto rodin assistia avidamente, o olhar fixo do aluno
ficava preso nas mãos da estátua e aí ficava. "mestre," disse o
aluno reverentemente, "só um deus poderia ter criado tais mãos.
elas têm vida!"
aparentemente rodin tinha esperado algo diferente, mais uma
vez saiu, agora frenético. quando voltou arrastava consigo outro
aluno desnorteado. "essas mãos... essas mãos..." exclamava o re-
cém chegado, no mesmo tom reverente dos outros, "se não tives-
-se feito nada anteriormente, mestre, essas mãos torná-lo-iam
imortal!"
alguma coisa deve ter dado a rodin, pois num grito consternado
correu para o canto do estúdio e agarrou num machado ameaça-
dor. avançava para a estátua com a intenção de a partir em mil
pedaços. instalou-se o horror, os seus alunos atiraram-se a ele,
mas na sua loucura sacudiu-os com uma força sobre-humana.
correu para a estátua e com um golpe preciso, cortou as magní-
ficas mãos. virou-se então para os seus pupilos estupidificados,
com os olhos a brilhar. "estúpidos" gritou. "fui obrigado a des-
truir estas mãos pois tinham vida própria. não pertenciam ao
resto da composição. lembrem-se, e nunca mais se esqueçam
que: nenhuma parte é mais importante que o todo."
e é por isso que a estátua de balzac está de pé em paris,
sem mãos.
- lajos egri -
(the art of dramatic writing)
(trad, menino mau)
- murcof -
(mir)
de balzac. a figura usava um longo robe de longas mangas soltas.
as mãos estavam cruzadas na frente.
rodin afastou-se, exausto mas triunfante, e olhou para o seu tra-
balho com satisfação. era uma obra-prima. como qualquer artista,
precisava de alguém com quem partilhar a sua alegria.
embora fossem quatro da manhã, apressou-se a acordar um dos
seu alunos. o mestre foi à frente a correr com grande entusiasmo
e observou a reacção do jovem. os olhos do aluno lentamente se
focaram nas mãos. "fantástico!" gritou. "que mãos... mestre, nunca
vi mãos tão maravilhosas!" a cara de rodin escureceu. momentos
depois rodin saiu de novo do seu estúdio. passado pouco tempo
regressava com outro aluno a reboque. a reacção foi quase a mes-
ma. enquanto rodin assistia avidamente, o olhar fixo do aluno
ficava preso nas mãos da estátua e aí ficava. "mestre," disse o
aluno reverentemente, "só um deus poderia ter criado tais mãos.
elas têm vida!"
aparentemente rodin tinha esperado algo diferente, mais uma
vez saiu, agora frenético. quando voltou arrastava consigo outro
aluno desnorteado. "essas mãos... essas mãos..." exclamava o re-
cém chegado, no mesmo tom reverente dos outros, "se não tives-
-se feito nada anteriormente, mestre, essas mãos torná-lo-iam
imortal!"
alguma coisa deve ter dado a rodin, pois num grito consternado
correu para o canto do estúdio e agarrou num machado ameaça-
dor. avançava para a estátua com a intenção de a partir em mil
pedaços. instalou-se o horror, os seus alunos atiraram-se a ele,
mas na sua loucura sacudiu-os com uma força sobre-humana.
correu para a estátua e com um golpe preciso, cortou as magní-
ficas mãos. virou-se então para os seus pupilos estupidificados,
com os olhos a brilhar. "estúpidos" gritou. "fui obrigado a des-
truir estas mãos pois tinham vida própria. não pertenciam ao
resto da composição. lembrem-se, e nunca mais se esqueçam
que: nenhuma parte é mais importante que o todo."
e é por isso que a estátua de balzac está de pé em paris,
sem mãos.
- lajos egri -
(the art of dramatic writing)
(trad, menino mau)
- murcof -
(mir)
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009
ruy belo vs kangding ray
efeitos secundários
é bom estarmos atentos ao rodar do tempo
o outono por exemplo tem recantos entre
dia e noite ao pé de certos troncos indecisos
cercados um por um de sombras envolventes
rente às árvores vamos, húmidos humildes
dizem que é outono. mas que época do ano
toca nestas paredes que roçamos
como gente que vai à sua vida
e não avista o mar, afinal símbolo de quanto quer,
ó deus, ó mais redonda boca para os nomes das coisas
para o nome do homem ou o homem do homem?
banho lustral de ausência é este tempo
de pés postos na terra em puro esquecimento
e vamo-nos perdendo de nós mesmos, vamos
dispersos em bocados, vítimas do vento
ficando aqui, ali, nalgum lugar que amamos
nada mais do que terra há quem ao corpo nos prometa
quem somos? que dizemos?
                  reúna-nos um dia o toque da trombeta
- ruy belo -
- kangding ray -
(the distance)
é bom estarmos atentos ao rodar do tempo
o outono por exemplo tem recantos entre
dia e noite ao pé de certos troncos indecisos
cercados um por um de sombras envolventes
rente às árvores vamos, húmidos humildes
dizem que é outono. mas que época do ano
toca nestas paredes que roçamos
como gente que vai à sua vida
e não avista o mar, afinal símbolo de quanto quer,
ó deus, ó mais redonda boca para os nomes das coisas
para o nome do homem ou o homem do homem?
banho lustral de ausência é este tempo
de pés postos na terra em puro esquecimento
e vamo-nos perdendo de nós mesmos, vamos
dispersos em bocados, vítimas do vento
ficando aqui, ali, nalgum lugar que amamos
nada mais do que terra há quem ao corpo nos prometa
quem somos? que dizemos?
                  reúna-nos um dia o toque da trombeta
- ruy belo -
- kangding ray -
(the distance)
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
nick brandt vs stephan micus
- stephan micus -
(flying horses)
nick brandt artist statement:
(...) the emphasis has generally been on capturing the drama of wild
animals in action, or capturing that dramatic single moment, as opposed
to simply animals in the state of being. i’ve always thought this something
of a wasted opportunity.
(... )my aim is that my photographs transcend what prior to this, was a
purely documentative genre.
aside from using certain absurdly impractical techniques, i do one thing
that i believe makes a big difference: i get very, very close to the animals.
i don't use telephoto lenses, as i want to see as much of the sky and
landscape as possible - to see the animals within the context of their
environment. that way, the photos become about the atmosphere of the
place as well as the animals. and being that close to the animals, i get a real
sense of intimate connection to them, to that specific animal in front of me.
i love the feeling, want the feeling, that they’re almost presenting
themselves for a studio portrait.
- nick brandt - (elephant with exploding dust, amboseli, 2004)
- nick brandt - (cheetah in tree, maasai mara, 2003)
- nick brandt - (lioness looking over plains, maasai mara, 2004)
- nick brandt - (portrait of old chimpanzee ii, mahale, 2003)
- nick brandt - (giraffe & baby under trees, maasai mara, 2002)
- nick brandt - (two rhinos, lewa downs, 2003)
- nick brandt - (lion family portrait, maasai mara, 2004)
- nick brandt - (chimpanzee monks, mahale, 2003)
- nick brandt - (storks in treetops, maasai mara, 2002)
- nick brandt - (elephant exodus, amboseli, 2004)
- nick brandt - (cheetah and cubs, maasai mara, 2003)
- nick brandt - (hippo river, maasai mara, 2002)
- nick brandt - (sitting lionesses i, serengeti, 2002)
- nick brandt - (windswept lion, serengeti, 2002)
- nick brandt - (elephant herd, serengeti, 2001)
- nick brandt - (giraffe fan, aberdares, 2001)
- nick brandt - (3 lions crossing lake, ngorongoro crater, 2000)
- nick brandt - (giraffe looking over plains, 2002)
- nick brandt - (portrait of two zebras turning heads, ngorongoro crater, 2005)
- nick brandt - (giraffes in evening light, maasai mara, 2006)
- nick brandt - (lion before storm ii - sitting profile, maasai mara, 2006)
- nick brandt - (buffalo group portrait, amboseli, 2006)
- nick brandt - (zebra on lake, ngrongoro crater, 2005)
- nick brandt - (wildebeest arc, maasai mara, 2006)
- nick brandt - (giraffes under swirling clouds, amboseli, 2007)
- nick brandt - (cheetah standing on rock, serengeti, 2007)
- nick brandt - (elephant drinking, amboseli, 2007)
- nick brandt - (portrait of blind old wildebeest, serengeti, 2006)
- nick brandt - (lion under leaning tree, maasai mara, 2008)
- nick brandt - (rhinos in lake, nakuru 2007)
- nick brandt - (elephant with tattered ears, amboseli, 2008)
- nick brandt - (lions head to head, masai mara 2008)
- nick brandt - (cheetah on termite mound, maasai mara 2008)
- nick brandt - (gorilla on rock, parc des volcans 2008)
- nick brandt - (baboons in profile, amboseli, 2007)
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domingo, 15 de novembro de 2009
gonçalo m. tavares vs fünkstorung
esboçava theodor um raciocínio cauteloso acerca da
probabilidade de o desemprego ter efeito tanto no
instinto de violência como no instinto oposto - o
da bondade ou compaixão que se infiltra misteriosa-
mente em determinadas pessoas, fazendo-as abandonar
os seus projectos particulares para se dirigirem a
causas gerais, altruístas; (...) formulava theodor
a hipótese de que o bem e o mal têm origem na ina-
ctividade e no tédio, e que, portanto, a actividade
concreta, especializada, dirigida individualmente,
provocava, pelo contrário, uma atitude moralmente
neutra em relação ao mundo; a actividade - o traba-
lho propriamente dito - poderia ser, então a forma
de evitar os grandes horrores, os grandes massacres
da história, aceitando-se porém, ao mesmo tempo, que
também assim desapareceriam as condições para o apa-
recimento de grandes acções e de homens santos. sen-
do no entanto, para theodor, de uma absoluta evidên-
cia a reduzida importância dos actos bons, quando
considerados num tempo longo, ao contrário dos actos
de maldade pura, que se haviam transformado no ver-
dadeiro motor da história. e este termo motor asso-
ciava os factos a uma determinada velocidade, não
existindo aqui qualquer consideração moral. não há
motores morais ou imorais - pensava theodor -, há
motores que funcionam e fazem avançar e há outros
que não funcionam. a santidade, historicamente, não
funcionava, e tal era, para ele, naquele momento,
uma descoberta importante. o progresso depende ape-
nas da velocidade do mal e das respostas que este
provoca, murmurava para si próprio.
- gonçalo m. tavares -
(jerusalém)
- fünkstorung -
(try dried frogs)
probabilidade de o desemprego ter efeito tanto no
instinto de violência como no instinto oposto - o
da bondade ou compaixão que se infiltra misteriosa-
mente em determinadas pessoas, fazendo-as abandonar
os seus projectos particulares para se dirigirem a
causas gerais, altruístas; (...) formulava theodor
a hipótese de que o bem e o mal têm origem na ina-
ctividade e no tédio, e que, portanto, a actividade
concreta, especializada, dirigida individualmente,
provocava, pelo contrário, uma atitude moralmente
neutra em relação ao mundo; a actividade - o traba-
lho propriamente dito - poderia ser, então a forma
de evitar os grandes horrores, os grandes massacres
da história, aceitando-se porém, ao mesmo tempo, que
também assim desapareceriam as condições para o apa-
recimento de grandes acções e de homens santos. sen-
do no entanto, para theodor, de uma absoluta evidên-
cia a reduzida importância dos actos bons, quando
considerados num tempo longo, ao contrário dos actos
de maldade pura, que se haviam transformado no ver-
dadeiro motor da história. e este termo motor asso-
ciava os factos a uma determinada velocidade, não
existindo aqui qualquer consideração moral. não há
motores morais ou imorais - pensava theodor -, há
motores que funcionam e fazem avançar e há outros
que não funcionam. a santidade, historicamente, não
funcionava, e tal era, para ele, naquele momento,
uma descoberta importante. o progresso depende ape-
nas da velocidade do mal e das respostas que este
provoca, murmurava para si próprio.
- gonçalo m. tavares -
(jerusalém)
- fünkstorung -
(try dried frogs)
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009
pier paolo pasolini vs simeon ten holt
(...) o rosto
ri: sob as maxilas, os ossos
mastigam palavras, rangendo:
fala sozinho, depois pára,
e enrola um velho cigarro,
carcaça onde toda a juventude
permanece, em flor, como um braseiro
metido em cofre ou em bacia:
quem nunca nasceu não morre nunca
(...)
- pier paolo pasolini -
(para as termas de carcalla)
- simeon ten holt -
(section 106)
ri: sob as maxilas, os ossos
mastigam palavras, rangendo:
fala sozinho, depois pára,
e enrola um velho cigarro,
carcaça onde toda a juventude
permanece, em flor, como um braseiro
metido em cofre ou em bacia:
quem nunca nasceu não morre nunca
(...)
- pier paolo pasolini -
(para as termas de carcalla)
- simeon ten holt -
(section 106)
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simeon ten holt
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
fernando gomes vs the driving stupid
troca-tintas
gostava de tinto e bebia verde. gostava de cesário verde e lia
guimarães rosa, apaixonou-se por rosa e casou-se com violeta.
o daltonismo tem destas coisas. até jura que tem sangue azul.
- fernando gomes -
- the driving stupid -
(horror asparagus stories)
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the driving stupid
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
robert walser vs david shea
um indivíduo, que sofre, ele próprio do pecado do orgulho,
chamou-me impertinente. é sempre fácil atribuir os nossos
próprios erros aos nossos concidadãos que, em boa verdade,
nada têm a ver com isso. temos mesmo de saber lidar com
os nossos vizinhos. há, por vezes, pessoas que não me cum-
primentam na rua nem no café, e eu imediatamente noto
nelas que, no seu íntimo, estão a curvar-se perante mim
num cumprimento. mas elas, infelizmente, não gostam de o
reconhecer. infelizmente? deus sabe como eu fico satisfeito
por não me complicarem a vida com testemunhos de consi-
deração. se me sento num local qualquer, logo se sentam ao
pé de mim aqueles que gostariam de me ver mais animado,
imediatamente seguidos pelos que gostariam de me ver mais
calmo e mais sossegado.
- robert walser -
(o salteador)
- david shea -
(psyche)
chamou-me impertinente. é sempre fácil atribuir os nossos
próprios erros aos nossos concidadãos que, em boa verdade,
nada têm a ver com isso. temos mesmo de saber lidar com
os nossos vizinhos. há, por vezes, pessoas que não me cum-
primentam na rua nem no café, e eu imediatamente noto
nelas que, no seu íntimo, estão a curvar-se perante mim
num cumprimento. mas elas, infelizmente, não gostam de o
reconhecer. infelizmente? deus sabe como eu fico satisfeito
por não me complicarem a vida com testemunhos de consi-
deração. se me sento num local qualquer, logo se sentam ao
pé de mim aqueles que gostariam de me ver mais animado,
imediatamente seguidos pelos que gostariam de me ver mais
calmo e mais sossegado.
- robert walser -
(o salteador)
- david shea -
(psyche)
terça-feira, 10 de novembro de 2009
rainer werner fassbinder vs kaki king
professor: podemos pegar num poema ao calhas ou numa linha.
sobre todos os cumes
em todas as copas não sentes,
um sopro sequer,
os pássaros calados no bosque,
espera, em breve,
também tu repousarás. (1)
percebe a minha ideia? é que aquilo que o poeta é capaz de dizer
ultrapassa sempre a medida habitual do dizível. o poeta consegue
sentir estados de espírito que nunca ninguém sentiu. e... o poeta
sabe antecipadamente, antes de os outros homens fazerem se-
quer ideia. por isso é que temos de aprender a analisar o poeta e
a sua obra. eu também, é precisamente uma das funções da esco-
la. claro que também temos de aprender coisas profanas como a
tabuada ou geografia ou biologia, claro. mas nada supera a impor-
tância de se ser capaz de compreender o poeta e o pensador. é
verdade que a vida dos homens é constituída em primeiro lugar
por números e negócios. mas por isso mesmo o homem precisa
da possibilidade de se distrair para depois poder estar à altura
das suas actividades e negócios.
(1) goethe, "über allen gipflen ist ruh"
- rainer werner fassbinder -
(sangue no pescoço do gato)
- kaki king -
(close your eyes & you'll burst into flames)
sobre todos os cumes
em todas as copas não sentes,
um sopro sequer,
os pássaros calados no bosque,
espera, em breve,
também tu repousarás. (1)
percebe a minha ideia? é que aquilo que o poeta é capaz de dizer
ultrapassa sempre a medida habitual do dizível. o poeta consegue
sentir estados de espírito que nunca ninguém sentiu. e... o poeta
sabe antecipadamente, antes de os outros homens fazerem se-
quer ideia. por isso é que temos de aprender a analisar o poeta e
a sua obra. eu também, é precisamente uma das funções da esco-
la. claro que também temos de aprender coisas profanas como a
tabuada ou geografia ou biologia, claro. mas nada supera a impor-
tância de se ser capaz de compreender o poeta e o pensador. é
verdade que a vida dos homens é constituída em primeiro lugar
por números e negócios. mas por isso mesmo o homem precisa
da possibilidade de se distrair para depois poder estar à altura
das suas actividades e negócios.
(1) goethe, "über allen gipflen ist ruh"
- rainer werner fassbinder -
(sangue no pescoço do gato)
- kaki king -
(close your eyes & you'll burst into flames)
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sábado, 7 de novembro de 2009
wallace stevens vs sylvie courvoisier trio
meço-me
contra uma árvore alta.
acho que sou muito mais alto,
pois chego mesmo até ao sol,
com os meus olhos;
e chego à praia do mar
com os meus ouvidos.
todavia não gosto
do modo como as formigas rastejam
para dentro e para fora da minha sombra
- wallace stevens -
- sylvie courvoisier trio -
(sekel)
contra uma árvore alta.
acho que sou muito mais alto,
pois chego mesmo até ao sol,
com os meus olhos;
e chego à praia do mar
com os meus ouvidos.
todavia não gosto
do modo como as formigas rastejam
para dentro e para fora da minha sombra
- wallace stevens -
- sylvie courvoisier trio -
(sekel)
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