Mostrar mensagens com a etiqueta harold pinter. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta harold pinter. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

harold pinter vs micachu

problema

o telefone toca. ignoro. persiste. não sou parvo.
o estratagema a que recorro ocorre-me facilmente.
levanto o auscultador. não digo nada. silêncio
igual, na outra ponta. ele troca de auscultador.
o tom é extraordinariamente estridente.
após dar conta de alguns trabalhos decidi fazer
um telefonema. levantei o auscultador. silêncio
morto. sem precedentes. o sistema telefónico da
minha área é normalmente sans pareil. à comunica-
ção da mais pequena falha vêm os técnicos a correr
ao local para corrigir. mas neste caso há um pro-
blema palpável. não posso telefonar para comunicar
a falha. a falha é tão vasta, tão impregnante, tão
consumada, tão definitiva que impede, sem um res-
quício de esperança, a ajuda.
telefone calado. noite morta.
a linha? o telefone fora do descanso? a linha te-
lefónica fora do descanso? investigo. linha segu-
ra, com uma certa indolência, no descanso. estou
desonrientado. não só isso. pego numa cadeira e
sento-me desorientado.
desorientado. ausência de sinal. noite morta. toca.
*
saio da biblioteca, vou a uma cabine telefónica e
disco o número da minha casa. linha ocupada.
*
algém anda a tentar lixar-me.

- harold pinter -


Photobucket

- micachu -
(vulture)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

harold pinter vs johann johannsson

poema

e todas as outras
desconfiadas agora
atentas às flores

e todas as outras
sem sorrir
lembrando outras

sorrindo nos jardins
atentas às flores
desconfiadas agora

que lembram outras
desconfiadas agora
apresentando flores

que lembram outras caras
lembrando outras
sem desconfiar pelos jardins

que apresentam os seus jardins
lembrando outras
que desconfiam das flores

- harold pinter
-


Photobucket

- johann johannsson -
(melodia [i])

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

harold pinter vs ian simmonds

seguem as estruturas da linguagem e a estrutura da realidade
(com isto quero dizer o que realmente acontece) em linhas pa-
ralelas? permanece a realidade essencialmente fora da lingua-
gem, separada, obstinada, alienada, não sendo susceptível de
ser descrita? será impossível haver uma correspondência pre-
cisa e vital entre o que é e a nossa percepção disso? ou nós é
que somos obrigados a usar a linguagem de maneira a obscu-
recer e a distorcer a realidade - distorcer o que é, distorcer o
que acontece - porque temos medo dela? somos encorajados
a sermos cobardes. não somos capazes de encarar os mortos
porque é em nosso nome que eles morrem. temos de prestar
atenção ao que anda a ser feito em nosso nome. eu creio que é
devido à maneira como usamos a linguagem que fomos apanha-
dos nesta terrível armadilha, em que as palavras como liberda-
de, democracia e valores cristãos ainda são usados para justifi-
car políticas e actos bárbaros e vergonhosos. temos a obrigação
séria e urgente de sujeitar tais termos a um escrutínio intenso
e crítico. se não o fizermos, tanto o nosso juízo moral como polí-
tico permanecerá fatalmente debilitado.

- harold pinter -
(oh, super-homem. transmitido no opinion, channel 4, 31/05/90)



Photobucket

- ian simmonds -
(jet)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

harold pinter vs sidsel endresen & bugge wesseltoft

len: a minha mesa está ali. aquilo é uma mesa. a minha cadeira
está ali. a minha mesa está ali. aquilo é uma fruteira. a minha
cadeira está ali. os meus cortinados estão ali. não há vento.
a noite já vai alta, antes de nascer o dia. isto é o meu quarto.
isto é um quarto. o papel de parede está ali, nas paredes. há seis
paredes. oito paredes. um octógono. este quarto é um octógono.
os meus sapatos estão ali, nos meus pés.
isto é uma viagem e uma emboscada. isto é o centro do frio, uma
paragem na viagem e nenhuma emboscada. esta é a erva espessa
a que me agarro. esta é a moita no centro da noite e da manhã. a
minha lâmpada de cem watts está ali como um punhal. este
quarto mexe-se. este quarto está a mexer-se. mexeu-se. chegou...
a um beco sem saída. a minha imobilidade é esta. não nenhuma
teia. tudo é claro, e abundante. talvez chegue uma manhã. se a
manhã chegar, ela não vai destruir a minha imobilidade, nem o
meu luxo. quer esteja escuro a meio da noite quer esteja luz, nada
se intromete. tenho o meu compartimento. estou encurralado. a
minha arrumação está aqui, e também o meu reino. não há vozes.
do meu lado não se fazem buracos.

- harold pinter -
(os anões)


Photobucket

- sidsel endresen & bugge wesseltoft -
(survival techniques 1+2)