terça-feira, 15 de dezembro de 2009

harold pinter vs micachu

problema

o telefone toca. ignoro. persiste. não sou parvo.
o estratagema a que recorro ocorre-me facilmente.
levanto o auscultador. não digo nada. silêncio
igual, na outra ponta. ele troca de auscultador.
o tom é extraordinariamente estridente.
após dar conta de alguns trabalhos decidi fazer
um telefonema. levantei o auscultador. silêncio
morto. sem precedentes. o sistema telefónico da
minha área é normalmente sans pareil. à comunica-
ção da mais pequena falha vêm os técnicos a correr
ao local para corrigir. mas neste caso há um pro-
blema palpável. não posso telefonar para comunicar
a falha. a falha é tão vasta, tão impregnante, tão
consumada, tão definitiva que impede, sem um res-
quício de esperança, a ajuda.
telefone calado. noite morta.
a linha? o telefone fora do descanso? a linha te-
lefónica fora do descanso? investigo. linha segu-
ra, com uma certa indolência, no descanso. estou
desonrientado. não só isso. pego numa cadeira e
sento-me desorientado.
desorientado. ausência de sinal. noite morta. toca.
*
saio da biblioteca, vou a uma cabine telefónica e
disco o número da minha casa. linha ocupada.
*
algém anda a tentar lixar-me.

- harold pinter -


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- micachu -
(vulture)

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