quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

italo calvino vs rolling stones

talvez o erro seja estabelecer que em princípio esta-
mos eu e um telefone num espaço finito como a minha
casa, quando o que tenho de comunicar é a minha situação
em relação a muitos telefones que tocam, telefones que
se calhar não me chamam a mim, não têm comigo nenhuma
relação, mas basta o facto de eu poder ser chamado a um
telefone para tornar possível, ou pelo menos pensável
que possa ser chamado por todos os telefones. por exem-
plo quando toca o telefone numa casa vizinha e por um
momento me pergunto se não é na minha casa que toca,
dúvida que logo se revela infundada mas que no entanto
permanece um resíduo visto que podia acontecer que na
realidade a chamada fosse mesmo para mim mas por um
engano de número ou devido a mau contacto dos fios fos-
se parar ao vizinho, tanto mais que naquela casa não há
ninguém para atender e o telefone continua a tocar, e
então na lógica irracional que o toque nunca deixa de
despertar penso: talvez seja mesmo para mim, talvez o
vizinho esteja em casa mas não atenda porque já sabe,
talvez quem ligou também saiba que está a chamar o nú-
mero errado mas o faça de propósito para me pôr neste
estado, sabendo que não posso atender mas sei que deve-
ria atender.

- italo calvino -
(se numa noite de inverno um viajante)



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- rolling stones -
(paint it black)

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