terça-feira, 7 de abril de 2009

frank o'hara vs steve reich

a um passo de distância

é a minha hora de almoço, por isso vou
passear por entre táxis pintados
de ruído. primeiro, pelo passeio
onde trabalhadores alimentam os troncos
sujos brilhantes com sanduíches
e coca-cola, usando capacetes
amarelos. acho que os protegem
da queda de tijolos. depois pela
avenida em que saias rodopiam
nos calcanhares e levantam voo sobre
os gradeamentos. o sol, queima, mas
os táxis agitam o ar. observo
pechinchas em relógios de pulso. há
gatos que brincam na serradura.
                                              para
times square, onde o anúncio
sopra fumo sobre a minha cabeça e no alto
a cascata jorra suavemente. um
negro numa portada com um
palito, mexe-se langorosamente.
uma corista loura faz soar um estalido: ele
sorri e esfrega o queixo. de súbito
tudo buzina: são 12:40 de
uma quinta feira.
                          neon de dia é um
grande prazer, como edwin denby
escreveria, como são as lâmpadas eléctricas de dia.
paro para um cheeseburger no juliet's
corner, guilietta masina, mulher de
federico fellini, é bell' atrice.
e chocolate com malte. uma senhora que
em tal dia usa pele de raposa mete o cão d' água
dentro de um táxi.
                          há vários porto
riquenhos na avenida hoje, o que
a torna bela e quente. primeiro morreu
bunny, depois john latouche,
depois jackson pollock. a terra
está tão cheia deles, como a vida esteve?
comeu-se e passeia-se,
passa-se pelas revistas com nus
e os cartazes de tourada e
a manhattan storage warehouse,
que em breve demolirão. eu costumava
pensar que nela se exibia o
armory show.
                      um copo de sumo de papaia
e de volta ao trabalho. o meu coração está no
meu bolso, são poemas de pierre réverdy.

- frank o'hara -


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- steve reich -
(city life - ii. pile driver - alarms)