Mostrar mensagens com a etiqueta steve reich. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta steve reich. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 1 de março de 2011

wislawa szymborska vs steve reich

ainda

em vagões aferrolhados
os nomes atravessam o país.
mas para onde vão
e se um dia sairão,
não perguntem, não respondo, não sei.

o nome natão desfere murros na parede,
o nome isaac em loucura canta,
o nome sara por água grita
para o nome aarão que morre de sede.

não saltes em movimento, ó nome de david.
tu és nome à derrota condenado,
nome sem casa, que não se usa
e nesta terra pesa demasiado.

que nosso filho tenha nome eslavo.
porque aqui até cabelos nos contam,
aqui, na separação do bem e do mal,
também nomes e olhos importam.

não saltes. nosso filho será lech.
não saltes. ainda é cedo.
não saltes. a noite ri-se e arremeda
o bater das rodas.

uma nuvem feita de gente passa sobre o país,
muita nuvem, pouca chuva, uma lágrima,
uma lágrima, pouca chuva, tempo seco.
no bosque negro perdem-se os carris.

pouca-terra, bate a roda. bosque negro.
pouca-terra, o comboio de clamores a passar.
pouca-terra, acordada na noite ouço
pouca-terra, o martelar do silêncio no silêncio.

- wislawa szymborska -


Photobucket

- steve reich -
(different trains, for double string quartet & tape. 
europe - during the war)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

gonçalo m. tavares vs steve reich

36

mas ouçamos uma história (outra parábola?):
um duro homem avança por uma rua
que termina numa floresta como antes na infância
avançara por uma floresta que terminava
numa rua.
olha para todos os lados mas evita olhar para cima
pois alguém lhe dissera que os humanos
só participam nos acontecimentos
abaixo do nível dos olhos,
e esta expressão - abaixo do nível dos olhos -
torna-se tão forte como a velha expressão
- abaixo, ou acima, do nível do mar.


37

e eis então que a referência natureza
é substituída pela referência humana.
homens que antes agiam ao nível do mar
agem agora acima ou abaixo do nível dos olhos.
e digamos que: acima do nível dos olhos age
quem espera que os elementos divinos,
o acaso e o destino, resolvam o que a psicologia
e os utensílios não conseguem perceber.


38

ao nível dos olhos, pelo contrário, age quem acredita
que os gestos humanos são ainda, ou são agora,
a mais forte aceleração
que se pode introduzir no mundo.
quem age abaixo do nível dos olhos reconhece
que o avanço não foi suficiente
e que só a parte animal do homem,
ou a parte que se humilha, podem solucionar os conflitos.
saltar, argumentar, rastejar
- eis, em síntese, três formas humanas
de responder a um único mundo.
(e bloom vai praticar todas.)

- gonçalo m. tavares -
(uma viagem à índia, canto i)



Photobucket

- steve reich -
(music for 18 musicians - section iiia)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

anton tchekhov vs steve reich

durante as tardes e as noites de julho já não se ouvem as
codornizes, nem as galinholas, nem o rouxinol nas, nas ravinas
da floresta; as flores já não embalsamam o ar. no entanto, a
estepe continua ainda muito bela e muito cheia de vida. basta
que o sol se ponha e a terra mergulhe na sombra para que a
tristeza do dia seja esquecida e tudo seja perdoado; a estepe
suspira suavemente pelo seu grande peito. a obscuridade da
noite esconde o seu estigma, a erva anima-se numa alegre
confusão juvenil que durante o dia ela nunca consegue ter;
os estalidos, os assobios as arranhadelas, os baixos, os tenores
e os sopranos da estepe, tudo se funde num zumbido contínuo
que convida à saudade e à melancolia. esta ressonância
adormece como uma canção de embalar; rola-se através da
estepe e sente-se que se vai adormecer, mas que ainda não
adormeceu, ou um barulho indefinível semelhante a uma voz
humana, como um «aaah» de espanto, e lá se vai o sono das
pálpebras. ou então passa-se diante duma ravina com
arbustos e aquele que os habitantes da estepe chamam
«spliuk», enquanto outro - um mocho - ri às gargalhadas ou
soluça como uma mulher histérica. para quem gritam eles e
quem os ouve nesta imensidão, só deus o sabe, mas o grito
deles vem repassado de tristeza e de queixume. cheira a
feno, a ervas secas, flores tardias, mas este cheiro é espesso,
adocicado e suave.
vê-se tudo através da obscuridade, mas é difícil distinguir as
cores e os contornos dos objectos. tudo parece diferente do
que na realidade é.
por vezes vai-se a andar e de repente vê-se à frente, mesmo
à beira da estrada, uma silhueta que parece um monge; está
à espera, imóvel, e segurando qualquer coisa nas mãos... um
salteador, talvez? aproxima-se, aumenta... ei-lo do tamanho
da caleça, e então descobre-se que não é um homem, mas
um arbusto solitário ou um rochedo. silhuetas destas, imóveis
e que parecem estar à espera de alguém, erguem-se nas
colinas, escondem-se atrás dos outeiros, surgem por entre as
ervas; todas se assemelham a seres humanos e todas
inspiram desconfiança.
então, quando a lua nasce, a noite torna-se pálida e sombria.
a bruma desaparece completamente, o ar fica transparente,
fresco e suave. tudo se vê muito claramente, de tal forma que
se podem distinguir as ervas à beira da estrada, os crânios e
as pedras que estão espalhados pela estepe. no fundo claro da
noite, as silhuetas misteriosas semelhantes a monges parecem
ainda mais sombrias e ameaçadoras. no meio da estridulação
monótona dos insectos, o «aaah» espantado ou o grito dum
pássaro, que não dorme ou anda a vaguear, ressoam cada vez
mais frequentemente, perturbando o ar imóvel. grandes
sombras se deslocam na planície como nuvens no céu e, se se
perscrutar profundamente o horizonte misterioso, vêem-se
silhuetas diáfanas e caprichosas, um pouco aterrorizadoras,
que se erguem e cruzam. se se erguer os olhos para o céu
verde-pálido constelado de estrelas, puro de qualquer nuvem
ou da menor mancha, compreende-se porque é que o ar
cálido está imóvel, é porque a natureza inteira está à espera
e receia mexer-se: está paralisada de medo e não desejaria
perder um só instante da vida. a vastidão insondável e a
imensidade infindável do céu em parte alguma são tão
palpáveis como no mar ou na estepe banhada pelo luar. este
céu é assustador, magnífico, sedutor, olha-nos com languidez,
chama-nos e, com ternura, obriga-nos a virar a cabeça.

- anton tchekhov -
(a estepe)


Photobucket

- steve reich -
(tehillim)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

cormac mccarthy vs salt merchant + steve reich

quando havia luz suficiente para usar os binóculos ele olhou
através
deles para o vale lá em baixo. tudo empalidecendo ao
entrar na
escuridão. a cinza macia soprada em espirais sobre
o asfalto.
ele estudou o que conseguia ver. os segmentos de
estrada lá em
baixo entre árvores mortas. procurando algo
colorido. qualquer
movimento. qualquer rasto de coluna de
fumo. baixou os binóculos e
tirou a máscara de algodão da
cara e limpou o nariz na parte de
trás do pulso e voltou a olhar
para a paisagem através dos binó
culos. depois sentou-se
segurando os binóculos e viu a pálida luz
do dia congelar
sobre a terra. apenas sabia que a criança era
a sua razão
de existir. ele disse:
se ele não é a palavra de deus deus
nunca falou.

- cormac mccarthy -
(the road)
(tradução, menino mau)


Photobucket

- salt merchant -
(desolate valley)

- steve reich -
(the desert music - first movement [fast])

terça-feira, 7 de abril de 2009

frank o'hara vs steve reich

a um passo de distância

é a minha hora de almoço, por isso vou
passear por entre táxis pintados
de ruído. primeiro, pelo passeio
onde trabalhadores alimentam os troncos
sujos brilhantes com sanduíches
e coca-cola, usando capacetes
amarelos. acho que os protegem
da queda de tijolos. depois pela
avenida em que saias rodopiam
nos calcanhares e levantam voo sobre
os gradeamentos. o sol, queima, mas
os táxis agitam o ar. observo
pechinchas em relógios de pulso. há
gatos que brincam na serradura.
                                              para
times square, onde o anúncio
sopra fumo sobre a minha cabeça e no alto
a cascata jorra suavemente. um
negro numa portada com um
palito, mexe-se langorosamente.
uma corista loura faz soar um estalido: ele
sorri e esfrega o queixo. de súbito
tudo buzina: são 12:40 de
uma quinta feira.
                          neon de dia é um
grande prazer, como edwin denby
escreveria, como são as lâmpadas eléctricas de dia.
paro para um cheeseburger no juliet's
corner, guilietta masina, mulher de
federico fellini, é bell' atrice.
e chocolate com malte. uma senhora que
em tal dia usa pele de raposa mete o cão d' água
dentro de um táxi.
                          há vários porto
riquenhos na avenida hoje, o que
a torna bela e quente. primeiro morreu
bunny, depois john latouche,
depois jackson pollock. a terra
está tão cheia deles, como a vida esteve?
comeu-se e passeia-se,
passa-se pelas revistas com nus
e os cartazes de tourada e
a manhattan storage warehouse,
que em breve demolirão. eu costumava
pensar que nela se exibia o
armory show.
                      um copo de sumo de papaia
e de volta ao trabalho. o meu coração está no
meu bolso, são poemas de pierre réverdy.

- frank o'hara -


Photobucket

- steve reich -
(city life - ii. pile driver - alarms)

domingo, 29 de março de 2009

steve reich vs hiroshi watanabe

stephen michael reich (b. 1936, nova iorque)
compositor americano pioneiro do estilo minimalista na música.
as suas inovações incluem a utilização de "tape loops" de modo
a criar padrões de fase e a utilização de sons quotidianos nas
suas peças.


hiroshi watanabe (b. 1951, sapporo, japão)
formou-se no college of art, na universidade de nihon em 1975.
mais tarde, muda-se para los angeles, onde actualmente reside.



- steve reich -
(nagoya marimbas)


faces : ena bunraku

the first existing document on ena bunraku was written in 1682, when a play was performed in the village of kaware in ena county of gifu prefecture in japan. the small village is at the foot of ena mountain outside of nakatsugawa. at that time bunraku was becoming a thriving art form in japan, especially in osaka 200 miles away. according to that document, a traveling bunraku company from awaji Island visited the village and performed a play for the villagers. after the play, a rich farmer in the audience convinced the villagers to build a small theater and dedicate bunraku plays to the village shrine. that marked the beginning of ena bunraku. bunraku, a traditional japanese stage art performed with puppets, was created during the edo period. the puppets are about one meter tall and are usually manipulated by three puppeteers who make the puppets appear alive. the puppet’s faces vividly display emotions while the puppeteers are visible on stage dressed in black outfits. bunraku plays are also accompanied by traditional musical instruments known as shamisen together with a singer-narrator who tells the story with deeply felt emotions. rooted in the community, localized traditional arts such as ena bunraku were handed down from generation to generation, developing a select group of enthusiasts composed of both the performers and audiences who loved the art form.


Photobucket
- hiroshi watanabe - (oniishi, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (omasa 2, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (omasa's hand, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (oshuto, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (tetsugatake, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (baba [headless], ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (baba, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (bunshichi, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (danshichi, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (jidai baba, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (koyaku, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (musume, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (musume's head, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (nashiwari [after], ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (ofuku, ena bunraku)


Photobucket
- hiroshi watanabe - (omasa 1, ena bunraku)