quinta-feira, 30 de abril de 2009
quarta-feira, 29 de abril de 2009
mário - henrique leiria vs müm
a flóber
ainda me lembro. o melhor presente que tive foi sem
dúvida aquela flóber. toda a garotada da terra colaborou
no meu entusiasmo. íamos para o campo, pam pam,
pardal aqui, pam pam, pardal ali.
a única arrelia que tive com ela foi quando um dia,
sem querer, pam, acertei em cheio na tia albertina.
para castigo não me deixaram ir ao enterro.
- mário - henrique leiria -
- müm -
( blai hnotturinn 9)
ainda me lembro. o melhor presente que tive foi sem
dúvida aquela flóber. toda a garotada da terra colaborou
no meu entusiasmo. íamos para o campo, pam pam,
pardal aqui, pam pam, pardal ali.
a única arrelia que tive com ela foi quando um dia,
sem querer, pam, acertei em cheio na tia albertina.
para castigo não me deixaram ir ao enterro.
- mário - henrique leiria -
- müm -
( blai hnotturinn 9)
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müm
terça-feira, 28 de abril de 2009
lawrence ferlinghetti vs marc chagall + beirut
não deixes esse cavalo
comer esse violino
gritou a mãe de chagall
mas ele
continuou
a pintar
e tornou-se famoso
e continuou a pintar
o cavalo com o violino na boca
e quando finalmente o acabou
saltou sobre o cavalo
e cavalgou para longe
acenando o violino
e então com uma vénia deferente deu-o
ao primeiro nu despido com que esbarrou
e não se comprometeram
- lawrence ferlinghetti -
(tradução, menino mau)
- marc chagall -
(mounting the ebony horse)
- beirut -
(nantes)
comer esse violino
gritou a mãe de chagall
mas ele
continuou
a pintar
e tornou-se famoso
e continuou a pintar
o cavalo com o violino na boca
e quando finalmente o acabou
saltou sobre o cavalo
e cavalgou para longe
acenando o violino
e então com uma vénia deferente deu-o
ao primeiro nu despido com que esbarrou
e não se comprometeram
- lawrence ferlinghetti -
(tradução, menino mau)
- marc chagall -
(mounting the ebony horse)
- beirut -
(nantes)
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domingo, 26 de abril de 2009
henry miller vs francis miller + dead can dance
quando entrou no camarim de antónio, ele agitava-se
febrilmente. debruçando-se sobre o enfermo, augusto
pegou-lhe nas mãos quentes e suadas. «pobre amigo»,
murmurou, «que posso eu fazer por ti?».
durante longos minutos o outro ergueu para ele o olhar
fixo e vazio, com a expressão de alguém que se
contempla num espelho. augusto acabou por compreender
o que lhe ia pelo espírito. «sou eu, augusto», exclamou
docemente.
«eu sei. és tu... mas também podias ser eu. ninguém
notará a diferença. e contudo tu és grande e eu nunca
fui ninguém.»
«estava a pensar nisso mesmo», disse augusto, sorriso
pensativo nos lábios. «é esquisito não é? um pouco de
tinta gordurosa, uma bexiga, uns trapos carnavalescos
- e não é preciso mais para uma pessoa se transformar
em ninguém! é o que nós somos - ninguém. e ao mesmo
tempo, toda a gente. não é a nós que eles aplaudem,
mas a eles próprios. meu velho, tenho de me ir embora,
mas antes deixa-me dizer-te uma pequena coisa que
aprendi há pouco... sermos nós próprios, unicamente
nós próprios, é algo extraordinário. mas como chegar
a isso, como alcançá-lo? ah!, eis o truque mais difícil
de todos. difícil, exactamente, porque não envolve
esforço. tentas não ser isto nem aquilo, nem grande nem
pequeno, nem hábil nem desajeitado... estás a perceber?
faz o que te vem à mão. de boa vontade, bien entendu.
porque nada há que não tenha a sua importância. nada.
em vez de risos e aplausos recebes sorrisos. pequenos
sorrisos de satisfação - e é tudo. mas é justamente o
próprio tudo... mais do que alguém pode pedir. fazendo
o trabalhinho sujo, alivias as pessoas dos seus fardos.
isso torna-as felizes, mas a ti torna-te ainda mais
feliz, compreendes? é claro que deves fazê-lo sem
ostentação, por assim dizer. nunca deves mostrar-lhes
o prazer que te dá. se te deixas apanhar, se te desco-
brem o segredo, estás perdido. chamar-te-ão egoísta,
faças por elas o que fizeres. podes fazer tudo por elas
- chegares mesmo a matar-te de trabalho - enquanto não
suspeitarem que te estão a enriquecer dando-te uma ale-
gria que nunca poderias dar a ti próprio...
bem, antónio, desculpa, não vim aqui para fazer dis-
cursos. seja como for, esta noite és tu que me dás um
presente. esta noite posso ser eu próprio sendo tu.
o que ainda é melhor do que ser tu, compris?»
- henry miller -
- francis miller -
- dead can dance -
(the carnival is over)
febrilmente. debruçando-se sobre o enfermo, augusto
pegou-lhe nas mãos quentes e suadas. «pobre amigo»,
murmurou, «que posso eu fazer por ti?».
durante longos minutos o outro ergueu para ele o olhar
fixo e vazio, com a expressão de alguém que se
contempla num espelho. augusto acabou por compreender
o que lhe ia pelo espírito. «sou eu, augusto», exclamou
docemente.
«eu sei. és tu... mas também podias ser eu. ninguém
notará a diferença. e contudo tu és grande e eu nunca
fui ninguém.»
«estava a pensar nisso mesmo», disse augusto, sorriso
pensativo nos lábios. «é esquisito não é? um pouco de
tinta gordurosa, uma bexiga, uns trapos carnavalescos
- e não é preciso mais para uma pessoa se transformar
em ninguém! é o que nós somos - ninguém. e ao mesmo
tempo, toda a gente. não é a nós que eles aplaudem,
mas a eles próprios. meu velho, tenho de me ir embora,
mas antes deixa-me dizer-te uma pequena coisa que
aprendi há pouco... sermos nós próprios, unicamente
nós próprios, é algo extraordinário. mas como chegar
a isso, como alcançá-lo? ah!, eis o truque mais difícil
de todos. difícil, exactamente, porque não envolve
esforço. tentas não ser isto nem aquilo, nem grande nem
pequeno, nem hábil nem desajeitado... estás a perceber?
faz o que te vem à mão. de boa vontade, bien entendu.
porque nada há que não tenha a sua importância. nada.
em vez de risos e aplausos recebes sorrisos. pequenos
sorrisos de satisfação - e é tudo. mas é justamente o
próprio tudo... mais do que alguém pode pedir. fazendo
o trabalhinho sujo, alivias as pessoas dos seus fardos.
isso torna-as felizes, mas a ti torna-te ainda mais
feliz, compreendes? é claro que deves fazê-lo sem
ostentação, por assim dizer. nunca deves mostrar-lhes
o prazer que te dá. se te deixas apanhar, se te desco-
brem o segredo, estás perdido. chamar-te-ão egoísta,
faças por elas o que fizeres. podes fazer tudo por elas
- chegares mesmo a matar-te de trabalho - enquanto não
suspeitarem que te estão a enriquecer dando-te uma ale-
gria que nunca poderias dar a ti próprio...
bem, antónio, desculpa, não vim aqui para fazer dis-
cursos. seja como for, esta noite és tu que me dás um
presente. esta noite posso ser eu próprio sendo tu.
o que ainda é melhor do que ser tu, compris?»
- henry miller -
- francis miller -
- dead can dance -
(the carnival is over)
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sexta-feira, 24 de abril de 2009
andy riley vs gomez
quinta-feira, 23 de abril de 2009
drgica vs avishai cohen
drgica
um dos membros do grupo pescada nº5
- avishai cohen -
(mediterranean sun)
- drgica -
(praia de quiaios)
- drgica -
(as cores #1)
- drgica -
(as cores #2)
- drgica -
(the cactuses #3)
- drgica -
(the cactuses #4)
- drgica -
(the cactuses #5)
- drgica -
(mar de quiaios)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(fábrica da cerveja - parte iv #4)
- drgica -
(árvore #11)
- drgica -
(árvores #5)
- drgica -
(if you come down to the river #8)
- drgica -
(ançã)
um dos membros do grupo pescada nº5
- avishai cohen -
(mediterranean sun)
- drgica -
(praia de quiaios)
- drgica -
(as cores #1)
- drgica -
(as cores #2)
- drgica -
(the cactuses #3)
- drgica -
(the cactuses #4)
- drgica -
(the cactuses #5)
- drgica -
(mar de quiaios)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(barra)
- drgica -
(fábrica da cerveja - parte iv #4)
- drgica -
(árvore #11)
- drgica -
(árvores #5)
- drgica -
(if you come down to the river #8)
- drgica -
(ançã)
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homebrew exhibition
quarta-feira, 22 de abril de 2009
edgar allan poe vs current 93
não sabia como era - porém, ao primeiro vislumbre
do edifício, trespassou-me a alma uma sensação de
insuportável soturnidade. digo insuportável, pois
essa impressão não se deixava aliviar por nenhum
daqueles sentimentos quase aprazíveis, porque
poéticos, com os quais o espírito costuma acolher
até as mais severas imagens naturais do desolado
ou do terrível. contemplei a cena diante de
mim - apenas a casa e as meras características
paisagísticas da região - os muros sombrios - as
janelas vazias em forma de olho - uns quantos
caniços grosseiros - e uns poucos troncos de ár-
vores decadentes - com uma expressão na alma de
tal maneira intensa que a não conseguiria compa-
rar adequadamente a nenhuma outra sensação ter-
restre que não à do torpor do celebrante por
causa do ópio - o lapso amargo que abre para a
vida quotidiana - o detestável cair do véu.
sobreveio uma gelidez, um afundamento, um nau-
sear do coração - uma irremível soturnidade de
pensamento que jamais o espicaçar da imaginação
poderia transformar em qualquer coisa de sublime.
o que seria - parei eu para pensar - o que seria
que tanto me intimidava ao contemplar a casa de
usher?
- edgar allan poe -
- current 93 -
(the teeth of the winds of the sea)
do edifício, trespassou-me a alma uma sensação de
insuportável soturnidade. digo insuportável, pois
essa impressão não se deixava aliviar por nenhum
daqueles sentimentos quase aprazíveis, porque
poéticos, com os quais o espírito costuma acolher
até as mais severas imagens naturais do desolado
ou do terrível. contemplei a cena diante de
mim - apenas a casa e as meras características
paisagísticas da região - os muros sombrios - as
janelas vazias em forma de olho - uns quantos
caniços grosseiros - e uns poucos troncos de ár-
vores decadentes - com uma expressão na alma de
tal maneira intensa que a não conseguiria compa-
rar adequadamente a nenhuma outra sensação ter-
restre que não à do torpor do celebrante por
causa do ópio - o lapso amargo que abre para a
vida quotidiana - o detestável cair do véu.
sobreveio uma gelidez, um afundamento, um nau-
sear do coração - uma irremível soturnidade de
pensamento que jamais o espicaçar da imaginação
poderia transformar em qualquer coisa de sublime.
o que seria - parei eu para pensar - o que seria
que tanto me intimidava ao contemplar a casa de
usher?
- edgar allan poe -
- current 93 -
(the teeth of the winds of the sea)
terça-feira, 21 de abril de 2009
raymond carver vs edward hopper + rodrigo leão
uma tarde
enquanto escreve, sem olhar para o mar,
ele sente que a ponta da sua caneta começa a tremer.
a maré passa através do cascalho.
mas não é isso. não,
é porque nesse instante ela decide
entrar no quarto sem quaisquer roupas vestidas.
sonolenta, sem ter por um momento a certeza
de onde está. agita o cabelo da testa.
senta-se na casa de banho de olhos fechados,
cabisbaixa. pernas abertas. ele vê-a
através da entrada. talvez
ela se esteja a recordar do que aconteceu nessa manhã.
momentos depois, ela abre um olho e olha para ele.
e sorri docemente.
- raymond carver -
(tradução, menino mau)
- edward hopper -
(rooms by the sea)
- rodrigo leão -
(sossego)
enquanto escreve, sem olhar para o mar,
ele sente que a ponta da sua caneta começa a tremer.
a maré passa através do cascalho.
mas não é isso. não,
é porque nesse instante ela decide
entrar no quarto sem quaisquer roupas vestidas.
sonolenta, sem ter por um momento a certeza
de onde está. agita o cabelo da testa.
senta-se na casa de banho de olhos fechados,
cabisbaixa. pernas abertas. ele vê-a
através da entrada. talvez
ela se esteja a recordar do que aconteceu nessa manhã.
momentos depois, ela abre um olho e olha para ele.
e sorri docemente.
- raymond carver -
(tradução, menino mau)
- edward hopper -
(rooms by the sea)
- rodrigo leão -
(sossego)
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