domingo, 31 de janeiro de 2010

the oatmeal vs vampire weekend


- vampire weekend -
(cape cod kwassa kwassa)




how twilight works

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- the oatmeal -

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

menino mau vs errors

de janela a janela
fogem os pensamentos,
por entre a luz e a sombra.

por entre os livros,
o pó da angústia
poisa nos ombros
de mais um dia
incompleto.

- nuno abrantes -


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- errors -
(bridge or cloud?)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

bertolt brecht vs fool's gold

a queima dos livros

quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente
os livros que continham saber pernicioso, e em toda a parte
fizeram bois arrastarem carros de livros
para as pilhas em fogo, um poeta perseguido
um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados
descobriu, horrorizado, que os seus
haviam sido esquecidos. a cólera fê-lo correr
célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.
queimem-me! escreveu com pena veloz. queimem-me!
não me façam uma coisa dessas! não me deixem de lado! eu não
relatei sempre a verdade nos meus livros? e agora tratam-me
como um mentiroso! eu vos ordeno:
queimem-me!

- bertold brecht -


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- fool's gold -
(surprise hotel)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

fernando pinto do amaral vs snowman

zeitgeist

os meus contemporâneos falam muito
e dizem: «então é assim»,
com o ar desenvolto de quem se alimenta
do som da própria voz, quando começam
a explicar longamente as actuais tendências
das artes ou das letras ou das sociedades
a pouco e pouco iguais umas às outras
neste primeiro mundo em que nascemos,
agora que o segundo deixou de existir
e que o terceiro, mais guerra, menos fome,
continua abstracto, em folclore distante.

parece que está morta a metafísica
e que a verdade adormeceu, sonâmbula,
nos corredores vazios onde às escuras
se vão cruzando alguns milhões de frases
dos meus contemporâneos. todavia,
falam de tudo com entusiasmo
de quem lança «propostas» decisivas
e percorre as «vertentes» de novos caminhos
para a humanidade, enquanto saboreiam
a cerveja sem álcool, o café
sem cafeína e sobretudo
o amor sem amor, para conservarem
o equilíbrio físico e mental.

os meus contemporâneos dizem quase sempre
que não são moralistas, e é por isso
que forçam toda a gente, mesmo quem não quer,
a ser livre, saudável e feliz;
proíbem o tabaco e o açúcar
e por vezes sofrem, tomam comprimidos
porque a alegria é uma questão de química
e convém tê-la a horas certas, como
o prazer vigiado por preservativos
e outros sempre obrigatórios cintos
de segurança, para que um dia possam
sentir que morrem cheios de saúde.
(...)

- fernando pinto do amaral -


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- snowman -
(the blood of the swan)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

robert musil vs schönberg

muitíssimas pessoas se sentem hoje numa lamentável
oposição a igual número de outras. é uma das mais
arreigadas características da civilização: o indivíduo
tem sempre uma enorme desconfiança em relação aos que
vivem fora do seu meio.
(...)
afinal, uma coisa só existe porque tem limites, e por isso
essa existência é em si um acto hostil em relação ao que
a envolve. sem o papa, não teria havido lutero, e sem os
pagãos não haveria papa; por isso, não se pode negar que
a mais profunda aproximação do ser humano ao seu se-
melhante consiste na sua rejeição dele.

- robert musil -
(o homem sem qualidades)



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- schönberg -
(op. 21, dreimal sieben gedichte aus albert girauds pierrot lunaire, enthauptung)

domingo, 24 de janeiro de 2010

manoel de barros vs metronomy

desinventar objectos. o pente, por exemplo. dar ao
pente funções de não pentear. até que ele fique à
disposição de ser uma begónia. ou uma gravanha.

usar algumas palavras que ainda não tenham idioma.

- manoel de barros -


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- metronomy -
(nights intro)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

henri michaux vs vampire weekend

(...)
os livros são o que mais me chateia. não deixo uma
única palavra no seu sentido nem sequer na sua forma.
aponto-a e, depois de alguns esforços, extripo-a e
desvio-a definitivamente do rebanho do seu autor.
num capítulo há logo milhares de frases e tenho de
as sabotar a todas. é uma necessidade.
às vezes, certas palavras permanecem como torres.
tenho de ocupar-me delas uma e outra vez, e, já bem
avançado nas minhas devastações, de repente, no ro-
deio de uma ideia, revejo aquela torre. afinal não
a abatera o bastante, tenho de voltar atrás e desco-
brir-lhe o seu veneno, e perco nisto um tempo infi-
nito.
e depois de lido o livro inteiro, tenho pena porque
não percebi nada... claro. não pude alimentar-me de
nada.

- henri michaux -
(uma vida de cão)



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- vampire weekend -
(white sky)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

manoel de barros vs kangding ray

para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) o modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) por que é que as borboletas de taejas vermelhas
têm devoção por túmulos
d) se o homem que toca de tarde sua existência num
fagote, tem salvação
e) que um rio que flui entre dois jacintos carrega
mais ternura que o rio que flui entre dois lagartos
f) como pegar na voz de um peixe
g) qual o lado da noite que humedece primeiro
etc
etc
etc
desaprender oito horas por dia ensina os princípios

- manoel de barros -


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- kangding ray -
(downshifters
)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

herman melville vs metronomy

cartas perdidas! não soa tal qual homens perdidos?
imagine-se um indivíduo por natureza e infortúnio
propenso a um sombrio desalento, haverá tarefa mais
apta a aumentar-lhe aquele, que o manuseio constan-
te dessas cartas perdidas, preparando-as para as
chamas? é que elas são queimadas, anualmente, às
carradas. por vezes, de entre as folhas dobradas,
o pálido funcionário retira uma anel - o dedo ao
qual se destinava talvez que apodreça já no túmulo;
uma nota de banco enviada rapidamente, por cari-
dade - aquele a quem ela iria socorrer, já não come
nem tem fome; perdão para os que morreram sem a ter,
a boa nova para quantos morreram opressos por fatais
calamidades. recados de vida, estas cartas correm
para a morte.

- herman melville -
(bartleby)



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- metronomy -
(on the motorway)

frederick carlson vs bohren & der club of gore

perfeição

quando os discípulos do velho mestre da cerimónia
do chá lhe ofereceram a chávena mais perfeita que
jamais tinha visto, levantou-a em silêncio entre
os dedos e levou-a com reverência à fronte. depois
partiu-a e mandou colar os fragmentos. assustara-o,
quer o atrevimento do oleiro, quer a presunção da
chávena, por terem atingido a perfeição na matéria.

- frederick carlson -


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- bohren & der club of gore -
(unkerich)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

bertolt brecht vs the doors

a excepção à regra

estranhem o que não for estranho.
tomem por inexplicável o habitual.
sintam-se perplexos ante o quotidiano.
tratem de achar um remédio para o abuso
mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

- bertolt brecht -


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- the doors -
(alabama song)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

roberto juarroz vs collapse under the empire

há palavras que não dizemos
e que pomos sem dizê-las nas coisas.

e as coisas guardam-nas,
e um dia respondem-nos com elas
e salvam-nos o mundo,
como um amor secreto
em cujos dois extremos
há uma só entrada.

não haverá alguma palavra
dessas que não dizemos
que tenhamos colocado
sem querer no nada?

- roberto juarroz -
(poesia vertical)
(trad. menino mau)



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- collapse under the empire -
(buried in pieces)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

herman melville vs duchess says

não há nada que irrite mais uma pessoa enérgica do
que a resistência passiva. se aquele que é posto
à prova não possui têmpera inumana, e se o que re-
siste é alguém completamente inofensivo, então o
primeiro procurará, com a sua melhor boa vontade,
explicar pelo recurso à imaginação o que se mostra
incapaz de ser resolvido pela razão.

- herman melville -
(bartleby)



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- duchess says -
(tenen non neu)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

enrique vila-matas vs tim hecker

festas, muitas festas.
não gosto nada de pessoas contentinhas. se depen-
desse delas, a literatura já tinha desaparecido da
face da terra. no entanto, as pessoas «normais» são
muito apreciadas em todo o lado. todos os assassi-
nos são, para os seus vizinhos, tal como se vê sem-
pre na televisão, pessoas satisfeitas e normais. as
pessoas normais são cúmplices do mal de montano da
literatura. pensei nisso hoje ao meio-dia, no taxi
do pico, enquanto me lembrava de uma frase que zel-
da costumava dizer ao marido, scott fitzgerald:
«ninguém mais do que nós tem o direito de viver, e
eles, filhos-da-puta, estão a destruir o nosso mundo.»
odeio esta grande parte da humanidade «normal» que
dia a dia destrói o meu mundo. odeio as pessoas que
são de uma grande bondade porque ninguém lhes deu a
oportunidade de saber o que é o mal e poderem então
escolher livremente o bem; pareceu-me sempre que
esse tipo de gente bondosa é de uma maldade extra-
ordinária em potência. detesto-os, penso muitas ve-
zes como zelda e vejo-os como uns filhos-da-puta.

- enrique vila-matas -
(o mal de montano)



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- tim hecker -
(knockoff nº2)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

robert musil vs eldar

num tecido social irrigado por energias, todos os caminhos
levam a um fim bom em si, se não hesitarmos e reflectirmos
por muito tempo. os objectivos estão próximos; mas também
a vida é curta, e assim se obtém o máximo proveito, e de
mais não precisa uma pessoa para ser feliz: porque aquilo
que se alcança é que dá forma à alma, ao passo que aquilo
que se persegue sem o atingir a deforma. a felicidade de-
pende muito pouco daquilo que se quer, realiza-se apenas
com aquilo que se alcança. para além disso, a zoologia
ensina-nos que um número de indivíduos limitados pode
constituir um todo genial.

- robert musil -
(o homem sem qualidades)



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- eldar -
(horus [with erg])

domingo, 10 de janeiro de 2010

russell edson vs david shea

uma vez um homem encontrou duas folhas e entrou em casa
segurando-as com os braços esticados dizendo aos pais que
era uma árvore. ao que eles disseram então vai para o pátio
e não cresças na sala pois as tuas raízes podem estragar a
carpete.
ele disse eu estava a brincar não sou uma árvore e deixou
cair as folhas.
mas os pais disseram olha é outono.

- russell edson -


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- david shea -
(eros)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

menino mau vs alva noto and ryuichi sakamoto

gostava de fotografar. fotografava domingos, mas sempre
a preto e branco.

- nuno abrantes -


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- alva noto & ryuichi sakamoto -
(berlin)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

raymond queneau vs vampire weekend

médico

após uma breve sessão de helioterapia, temi ficar de qua-
rentena, mas acabei por subir para uma ambulância cheia de
entrevados. aí, diagnostico um gastrálgico padecendo de
gigantismo opinático com elongação traqueal e reumatismo
deformador da fita do chapéu. esse cretino sofre repenti-
namente uma crise histérica porque um cacoquimo lhe com-
prime a tilose gonfótica e, depois, tendo descarregado a
bílis, isola-se para tratar das convulsões.
mais tarde, torno a vê-lo, esgazeado, em frente de um la-
zareto, prestes a consultar um charlatão acerca de um fu-
rúnculo que lhe desornava os peitorais.


onomatopeias

na plataforma, pla, pla, pla, de um autocarro, vrum, vrum,
da linha s (eclipse nesse passo o sol padeça), cerca do
meio-dia, tlim-tlão, tlim-tlão, um efebo ridículo, pff, que
tinha um daqueles chapéus, virou-se (gira-gira) de repente
para o passageiro do lado com um ar furioso e disse-lhe, hum,
hum: "o senhor está a empurrar-me de propósito". e zás. nes-
sa altura, trás, lança-se em direcção a um lugar livre e
senta-se nele, catrapás.
nesse mesmo dia, um pouco mais tarde, tlim-tlão, tlim-tlão,
voltei a vê-lo na companhia de outro efebo, pff, que lhe fa-
lava do botão do sobretudo (brr, não estava lá muito calor...).
e zás.

- raymond queneau -
(exercícios de estilo)



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- vampire weekend -
(horchata)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

istván örkény vs the doors

escolha

- bom dia, minha senhora!
- o que deseja o senhor?
- quero comprar um chapéu castanho.
- qual queria? tipo desportivo? mais modesto? de
abas largas?
- a senhora o que me aconselha?
- vamos experimentar este... é leve, não é muito
escuro, nem muito claro. o espelho é ali.
- acho que não me fica mal.
- como se tivesse sido talhado à sua medida.
- mas, sem querer maçá-la, faça o favor de me mos-
trar um outro modelo.
- com muito gosto. posso sugerir-lhe, por exemplo,
este aqui.
- realmente fica-me bem. nem sei qual deva escolher.
- se calhar um terceiro. muitos clientes costumam
elogiá-lo e fica-lhe tão bem como os outros dois.
- tem razão. qual é a diferença entre os preços dos
três chapéus?
- os preços são os mesmos.
- e as suas qualidades?
- tenho a certeza que nenhum é pior que os outros.
- então qual é a diferença dos três chapéus que ex-
perimentei?
- nenhuma, meu senhor. nem temos três chapéus de
homem.
- mas quantos têm?
- só um.
- então, foi aquele que eu experimentei três vezes
seguidas?
- sim, senhor. se me permite, qual vai escolher?
- não sei. talvez o primeiro.
- acho que aquele lhe assenta melhor, embora os
outros dois não fiquem atrás.
- não, não... mas agora insisto no primeiro chapéu.
- como o senhor quiser, bom dia

- istván örkény -

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- the doors -
(strange days)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

ruy belo vs rolling stones

teoria da presença de deus

somos seres olhados
quando os nossos braços ensaiarem um gesto
fora do dia-a-dia ou não seguirem
a marca deixada pelas rodas dos carros
ao longo da vereda marginada de choupos
na manhã inocente ou na complexa tarde
repetiremos para nós próprios
que somos seres olhados

e haverá nos gestos que nos representam
a unidade de uma nota de violoncelo
e onde quer que estejamos será sempre um terraço a meia altura
com os ao longe por muito tempo estudados
perfis do monte mário ou de qualquer outro monte
o melhor sítio para saber qualquer coisa da vida

- ruy belo -

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- rolling stones -
(she's a rainbow)