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terça-feira, 20 de abril de 2010

bertolt brecht vs caravan palace

(...)
maë - e tu não és livre?

garga - não. pausa. nós não somos livres. tudo começa com o
café da manhã e com a porrada que se leva quando se faz
asneiras, e as lágrimas da mãe salgam a sopa dos filhos e é
o suor da mãe que lhes lava as camisas e estamos garantidos
até chegar a idade do gelo e a raiz fica no coração. e quando
se é adulto e se quer fazer qualquer coisa de alma e coração,
descobrimos que já fomos pagos, iniciados, carimbados, ven-
didos a preço alto e não temos liberdade para sucumbir.
(...)

- bertolt brecht -
(na selva das cidades)



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- caravan palace -
(sofa)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

bertolt brecht vs boredoms

o vosso tanque, general, é um carro forte
derruba uma floresta esmaga cem
homens,
mas tem um defeito
- precisa de um condutor.
o vosso bombardeiro, general
é poderoso:
voa mais depressa que a tempestade
e transporta mais carga que um elefante
mas tem um defeito
- precisa de um piloto.
o homem, meu general, é muito útil:
sabe voar, e sabe matar
mas tem um defeito
- sabe pensar.

- bertolt brecht -
(o vosso tanque, general, é um carro forte)



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- boredoms -
(ichi)

segunda-feira, 1 de março de 2010

bertolt brecht vs loscil

do rio que tudo arrasta

do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.

- bertolt brecht -


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- loscil -
(endless falls)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

bertolt brecht vs fool's gold

a queima dos livros

quando o regime ordenou que fossem queimados publicamente
os livros que continham saber pernicioso, e em toda a parte
fizeram bois arrastarem carros de livros
para as pilhas em fogo, um poeta perseguido
um dos melhores, estudando a lista dos livros queimados
descobriu, horrorizado, que os seus
haviam sido esquecidos. a cólera fê-lo correr
célere até sua mesa, e escrever uma carta aos donos do poder.
queimem-me! escreveu com pena veloz. queimem-me!
não me façam uma coisa dessas! não me deixem de lado! eu não
relatei sempre a verdade nos meus livros? e agora tratam-me
como um mentiroso! eu vos ordeno:
queimem-me!

- bertold brecht -


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- fool's gold -
(surprise hotel)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

bertolt brecht vs the doors

a excepção à regra

estranhem o que não for estranho.
tomem por inexplicável o habitual.
sintam-se perplexos ante o quotidiano.
tratem de achar um remédio para o abuso
mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.

- bertolt brecht -


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- the doors -
(alabama song)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

bertolt brecht vs cláudia carvalho + sparks

mendigo: não há história.

imperador: e alexandre? e césar? e napoleão?

mendigo: histórias! quem é esse napoleão?

imperador: aquele que conquistou meio mundo e sucumbiu pela própria soberba!

mendigo: só dois podem acreditar nisso. ele e o mundo. é mentira. a verdade é que
napoleão foi um homem que remava numa grande galera e que tinha uma cabeça tão
grande que todos diziam: não podemos remar porque não temos espaço para os
cotovelos. quando o barco se afundou, porque eles não remavam, ele encheu a cabeça
de ar e sobreviveu, só ele, e porque estava acorrentado teve de continuar a remar, de
lá de baixo não conseguia ver para onde e todos se afogaram. então ele abanou a
cabeça sobre o mundo e como estava pesada de mais caiu.

imperador: isso é o maior disparate que eu alguma vez ouvi. desiludiste-me muito
com essa história. as outras ao menos foram bem contadas. mas que achas tu do imperador?


mendigo: não existe imperador. só o povo é que acha que existe e só uma pessoa se
julga imperador. quando tiverem construído muitos carros de guerra e os tambores
estiverem treinados, então haverá guerra e será procurado um inimigo.

imperador: mas o imperador acabou de vencer o seu inimigo.

mendigo: matou-o, não o venceu. o idiota matou outro idiota.

- bertolt brecht -
(o mendigo ou o cão morto)


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- cláudia carvalho -
(o mendigo)
- sparks -
(why do you take that tone with me)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

bertolt brecht vs anouar brahem

o coral do grande baal
(versão de 1955)


já no ventre da mãe baal crescia
estava o céu grande, baço, em acalmia
cheio de portentos, jovem e sem fundo
como baal o queria ao vir ao mundo

e o céu ali estava, em tristeza, alegria,
quando baal dormia, era feliz e não o via
de noite, ele violeta, baal embriagado:
baal de manhã santo, ele desmaiado

e baal calcorreia com indiferença
tascas, igrejas, hospitais sem parar,
não há cansaço, minha gente, que o vença,
baal arrasta o céu ao seu afundar.

no meio da escumalha dos pecadores
rebola-se baal, nu, sem histeria:
só o céu, mas sempre céu, senhores,
imponente, a nudez lhe cobria.

e a grande fêmea, a vida, que se of'rece
rindo àqueles que entre os joelhos aperta
deu-lhe algums gozos e ele agradece.
mas baal não morreu: ficou alerta.

e quando via mortos à sua volta
o prazer era sempre a dobrar.
tanto espaço, diz baal, há pouca malta.
tanto espaço, diz baal, dentro desta mulher.

se existe deus, se deus é uma invenção,
é indiferente, enquanto baal houver.
mas bem mais séria é para baal a opção
entre ter vinho ou não o ter.

se uma fêmea, diz baal, tudo vos der
deixai andar, que mais não deve ter!
uma mulher com homem não tem mal:
mas crianças teme-as até baal.

todos os vícios para alguma coisa servem
e diz baal, também o homem que os tem.
um vício é bom se souberes p'ra onde vais.
arranja dois: um deles está a mais!

não sejas sorna, que isso não dá prazer!
o que qu'remos, diz baal, é o que tem de ser.
se fizeres merda, diz baal, essa parada
é melhor do que não fazer nada.

mas não sejas tão sorna nem tão dócil
que o prazer, sabe deus, não é fácil!
é preciso membros fortes, experiências:
e às vezes não dá jeito a grande pança.

o prazer amolece, há que ser forte.
se der para o torto, deixa correr a sorte!
será eternamente jovem quem
noite após noite de si der cabo, e bem.

e se baal algum dia quebrar
alguma coisa, para por dentro a ver -
é pena lá isso é, mas é a brincar,
é sina a que baal não quer fugir.

e se a sina for suja - pois, paciência,
é de baal, dos pés à cabeça!
é a sina de baal, e ele quer-lhe bem -
até porque outra sina ele não tem!

aos abutres anafados que no céu
esperam por baal morto, ele pisca um olho
às vezes faz que morre. a ave desceu
e baal, mudo, come-a à ceia com molho.

no vale de lágrimas, sob estrelas de outono
baal devora vastos campos, mai mascando.
depois de os limpar, baal segue cantando
até à eterna floresta, e cai no sono.

e quando o ventre escuro o chama afinal,
o que é o mundo ainda? baal está farto.
tanto céu sob os olhos tem baal
que lhe chega de céu, mesmo já morto.

e já no escuro da terra apodrecia
e estava o céu grande, baço em acalmia
cheio de portentos e jovem e sem fundo
como baal o quis cá neste mundo.

- bertolt brecht -
(baal)

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- anouar brahem -
(raf raf)