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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

roberto juarroz vs nebulo

qualquer movimento mata algo.

mata o lugar que se abandona,
o gesto, a posição irrepetível,
algum anónimo organismo,
um sinal, um olhar,
um amor que voltava,
uma presença ou o seu contrário,
a vida sempre de algum outro,
a própria vida sem os outros.

e estar aqui é mover-se,
estar aqui é matar algo.
até os mortos se movem,
até os mortos matam.
aqui o ar cheira a crime.

mas o odor vem de mais longe.
e até o odor morre.

- roberto juarroz -
(poesia vertical, trad. menino mau)



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- nebulo -
(mecaninduction)

domingo, 14 de fevereiro de 2010

roberto juarroz vs clogs

poderia talvez esquecer algo que tenha escrito
e voltar a escrevê-lo da mesma maneira.

poderia esquecer a vida que tenha vivido
e voltar a vivê-la da mesma maneira.

poderia esquecer a morte que morrerei amanhã
e voltar a morrê-la da mesma maneira.

mas há sempre um grão de pó da luz
que parte a engrenagem das repetições:
poderia esquecer algo que tenha amado
mas não voltar a amá-lo da mesma maneira.

- roberto juarroz -
(poesia vertical, trad. menino mau)



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- clogs -
(veil waltz)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

roberto juarroz vs collapse under the empire

há palavras que não dizemos
e que pomos sem dizê-las nas coisas.

e as coisas guardam-nas,
e um dia respondem-nos com elas
e salvam-nos o mundo,
como um amor secreto
em cujos dois extremos
há uma só entrada.

não haverá alguma palavra
dessas que não dizemos
que tenhamos colocado
sem querer no nada?

- roberto juarroz -
(poesia vertical)
(trad. menino mau)



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- collapse under the empire -
(buried in pieces)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

roberto juarroz vs frode haltli

uma invasão de palavras
tenta encurralar o silêncio
mas, como sempre, fracassa.

tenta de seguida encurralar as coisas
que habitam o silêncio,
mas também não o consegue.
e vai por fim cercar as palavras
que convivem com o silêncio,
mas então produz-se o imprevisto:
o silêncio converte-se em palavra
para proteger melhor as palavras
que convivem com ele.

e enquanto a invasão das outras palavras
se desvanece como um sopro furtivo,
completa-se o insólito:
as palavras que restam
assemelham-se agora muito mais ao silêncio
que as outras palavras.

- roberto juarroz -
(tradução, menino mau)


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- frode haltli -
(lude)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

roberto juarroz vs bernardo sassetti

procurar uma coisa
é sempre encontrar outra.
assim, para achar algo,
há que procurar o que não é.

procurar o pássaro para encontrar a rosa,
procurar o amor para achar o exílio,
procurar o nada para descobrir um homem,
ir para trás para ir para a frente.

a chave do caminho,
mais do que nas suas bifurcações,
seu suspeito começo
ou seu duvidoso final,
está no cáustico humor
do seu duplo sentido.

sempre se chega,
mas a outro lugar.

tudo passa.
mas ao contrário.

- roberto juarroz -
(tradução, menino mau)


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- bernardo sassetti -
(si te contara)