e agora, quê?
e agora quê, leitor?
sós tu e eu,
desconhecidos.
unidos por um livro
no qual não sei que procuras,
no qual eu ando perdido.
- antonio pérez morte -
(y ahora, qué?, trad. menino mau)
- tobacco -
(fresh hex [feat. beck])
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
pierre reverdy vs the whip
o viajante e a sua sombra
estava tanto calor que ele deixara as suas roupas ao
longo da estrada peça a peça. deixou-as penduradas em
arbustos. e ao retirar a última peça, aproximava-se da
cidade. uma imensa vergonha se apossou dele e o impediu
de entrar. ele estava nu e como poderia ele não dar nas
vistas?
assim passou ao largo da cidade e voltou na direcção
oposta. ele tomara o lugar da sua sombra, que, vinda da
direcção inicial, o protegeu.
- pierre reverdy -
(the traveler and his shadow, trad. menino mau)
- the whip -
(divebomb)
estava tanto calor que ele deixara as suas roupas ao
longo da estrada peça a peça. deixou-as penduradas em
arbustos. e ao retirar a última peça, aproximava-se da
cidade. uma imensa vergonha se apossou dele e o impediu
de entrar. ele estava nu e como poderia ele não dar nas
vistas?
assim passou ao largo da cidade e voltou na direcção
oposta. ele tomara o lugar da sua sombra, que, vinda da
direcção inicial, o protegeu.
- pierre reverdy -
(the traveler and his shadow, trad. menino mau)
- the whip -
(divebomb)
Etiquetas:
contos do menino mau,
pierre reverdy,
the whip
terça-feira, 25 de maio de 2010
jorge luis borges vs uniform motion
arte poética
olhar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
e que os rostos passam como a água.
sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar e que a morte
que teme nossa carne é essa morte
de cada noite, que se chama sonho.
ver no dia ou no ano um símbolo
dos dias do homem e de seus anos,
converter o ultraje dos anos
numa música, um rumor e um símbolo,
ver na morte o sonho, no ocaso
um triste ouro, assim é a poesia.
que é imortal e pobre. a poesia
volta como a aurora e o ocaso.
por vezes à tarde uma cara
olha-nos desde o fundo dum espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela a nossa própria cara.
contam que ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao avistar sua ítaca
verde e humilde. a arte é essa ítaca
de verde eternidade, não de prodígios.
também é como o rio interminável
que passa e fica e é vidro dum mesmo
heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.
- jorge luis borges -
(trad, menino mau)
- uniform motion -
(back up your soul)
olhar o rio feito de tempo e água
e recordar que o tempo é outro rio,
saber que nos perdemos como o rio
e que os rostos passam como a água.
sentir que a vigília é outro sonho
que sonha não sonhar e que a morte
que teme nossa carne é essa morte
de cada noite, que se chama sonho.
ver no dia ou no ano um símbolo
dos dias do homem e de seus anos,
converter o ultraje dos anos
numa música, um rumor e um símbolo,
ver na morte o sonho, no ocaso
um triste ouro, assim é a poesia.
que é imortal e pobre. a poesia
volta como a aurora e o ocaso.
por vezes à tarde uma cara
olha-nos desde o fundo dum espelho;
a arte deve ser como esse espelho
que nos revela a nossa própria cara.
contam que ulisses, farto de prodígios,
chorou de amor ao avistar sua ítaca
verde e humilde. a arte é essa ítaca
de verde eternidade, não de prodígios.
também é como o rio interminável
que passa e fica e é vidro dum mesmo
heráclito inconstante, que é o mesmo
e é outro, como o rio interminável.
- jorge luis borges -
(trad, menino mau)
- uniform motion -
(back up your soul)
Etiquetas:
bang bang,
jorge luis borges,
uniform motion
domingo, 23 de maio de 2010
julio cortázar vs tobacco
o homem-criança não é um cavalheiro, mas um cornópio
que não percebe bem o sistema de linhas de fuga graças
às quais se cria uma perspectiva satisfatória da circuns-
tância, ou então, tal como acontece com as collages mal
sucedidas, se sente numa escala diferente relativamente
à circunstância, uma formiga que não cabe num palácio
ou um número quatro no qual não cabem mais do que três
ou cinco unidades.
- julio cortázar -
(do sentimento de não estar totalmente)
- tobacco -
(nuclear waste aerobics)
que não percebe bem o sistema de linhas de fuga graças
às quais se cria uma perspectiva satisfatória da circuns-
tância, ou então, tal como acontece com as collages mal
sucedidas, se sente numa escala diferente relativamente
à circunstância, uma formiga que não cabe num palácio
ou um número quatro no qual não cabem mais do que três
ou cinco unidades.
- julio cortázar -
(do sentimento de não estar totalmente)
- tobacco -
(nuclear waste aerobics)
sexta-feira, 21 de maio de 2010
pierre reverdy vs cartoom!
o sabor do real
ele andou num pé sem saber onde deveria
colocar o outro. na esquina o vento varreu o pó
e a sua boca voraz engoliu todo o espaço.
ele começou a correr, na esperança de que dum
momento para o outro voasse para longe, mas ao longo
da calha as pedras estavam húmidas e os seus braços
batendo no ar não o conseguiam suster. na sua queda
ele percebeu que era mais pesado que o seu sonho e amou,
a partir daí, o peso que o fizera cair.
- pierre reverdy -
(trad, menino mau)
- cartoom! -
( dough-nuts town's map)
ele andou num pé sem saber onde deveria
colocar o outro. na esquina o vento varreu o pó
e a sua boca voraz engoliu todo o espaço.
ele começou a correr, na esperança de que dum
momento para o outro voasse para longe, mas ao longo
da calha as pedras estavam húmidas e os seus braços
batendo no ar não o conseguiam suster. na sua queda
ele percebeu que era mais pesado que o seu sonho e amou,
a partir daí, o peso que o fizera cair.
- pierre reverdy -
(trad, menino mau)
- cartoom! -
( dough-nuts town's map)
Etiquetas:
cartoom,
contos do menino mau,
pierre reverdy
quarta-feira, 19 de maio de 2010
pablo picasso vs the dead weather
8-9 novembro xxxv
colete de
lâmpadas eléctricas de
toureiro
costurado com a mais fina
agulha
neblina
inventada
pelo touro.
- pablo picasso -
(trad, menino mau)
- the dead weather -
(the difference between us)
colete de
lâmpadas eléctricas de
toureiro
costurado com a mais fina
agulha
neblina
inventada
pelo touro.
- pablo picasso -
(trad, menino mau)
- the dead weather -
(the difference between us)
Etiquetas:
bang bang,
pablo picasso,
the dead weather
segunda-feira, 17 de maio de 2010
tim burton vs the death set
o rapaz com pregos nos olhos
o rapaz com pregos nos olhos
montou a sua árvore de metal.
parecia muito estranha
porque ele realmente via mal.
- tim burton -
(a morte melancólica do rapaz ostra e
outras estórias)
- the deathset -
(listen to this collision)
Etiquetas:
contos do menino mau,
the death set,
tim burton
sexta-feira, 14 de maio de 2010
jeff swenson vs hadouken!
terça-feira, 11 de maio de 2010
gonçalo m. tavares vs robotobibok
ferlinghetti
meu caro coração, não abuses do facto de as leis do
governo não falarem de ti. apaixonas-te como algumas
crianças abrem os embrulhos das prendas.
cem mil chineses são cem mil partículas ao nível de
um vigésimo andar e são uma única partícula ao nível
da lua.
meu caro, a tua mulher não é cabide onde coloques o
teu desejo. até porque normalmente o desejo tem menos
tecido do que a roupa normal de um homem.
se com vinte anos ela te deixa cair o lenço, em ma-
neiras de sedução, com setenta anos ela deixará cair
fragmentos do corpo; e o único romantismo com alguma
densidade surge nestes momentos.
seduzido a sério é o velho que apanha do chão a den-
tadura da velha. e vice-versa.
- gonçalo m. tavares -
- robotobibok -
(sonda jungle)
meu caro coração, não abuses do facto de as leis do
governo não falarem de ti. apaixonas-te como algumas
crianças abrem os embrulhos das prendas.
cem mil chineses são cem mil partículas ao nível de
um vigésimo andar e são uma única partícula ao nível
da lua.
meu caro, a tua mulher não é cabide onde coloques o
teu desejo. até porque normalmente o desejo tem menos
tecido do que a roupa normal de um homem.
se com vinte anos ela te deixa cair o lenço, em ma-
neiras de sedução, com setenta anos ela deixará cair
fragmentos do corpo; e o único romantismo com alguma
densidade surge nestes momentos.
seduzido a sério é o velho que apanha do chão a den-
tadura da velha. e vice-versa.
- gonçalo m. tavares -
- robotobibok -
(sonda jungle)
Etiquetas:
contos do menino mau,
gonçalo m. tavares,
robotobibok
segunda-feira, 10 de maio de 2010
nicanor parra vs rabih abou khalil
último brinde
quer queiramos quer não
só temos três alternativas:
o ontem, o presente e o amanhã.
e nem sequer três
porque como diz o filósofo
o ontem é ontem
pertence-nos apenas na recordação:
à rosa que já se desfolhou
não se lhe poder tirar outra pétala.
as cartas por jogar
são somente duas:
o presente e o dia de amanhã.
e nem sequer duas
porque é um dado adquirido
que o presente não existe
senão na medida em que se faz passado
e já passou...
como a juventude.
resumindo as contas
só nos vai ficando o amanhã:
levanto o meu copo
por esse dia que não chega nunca
mas que é o único
do qual realmente dispomos.
- nicanor parra -
(último brindis, trad. menino mau)
- rabih abou khalil -
(como um rio)
quer queiramos quer não
só temos três alternativas:
o ontem, o presente e o amanhã.
e nem sequer três
porque como diz o filósofo
o ontem é ontem
pertence-nos apenas na recordação:
à rosa que já se desfolhou
não se lhe poder tirar outra pétala.
as cartas por jogar
são somente duas:
o presente e o dia de amanhã.
e nem sequer duas
porque é um dado adquirido
que o presente não existe
senão na medida em que se faz passado
e já passou...
como a juventude.
resumindo as contas
só nos vai ficando o amanhã:
levanto o meu copo
por esse dia que não chega nunca
mas que é o único
do qual realmente dispomos.
- nicanor parra -
(último brindis, trad. menino mau)
- rabih abou khalil -
(como um rio)
Etiquetas:
bang bang,
nicanor parra,
rabih abou khalil
quinta-feira, 6 de maio de 2010
eliseo diego vs ryuichi sakamoto
calma
este silêncio,
branco, ilimitado,
este silêncio
do mar tranquilo, imóvel,
de repente
rompem os leves caracóis
por um impulso da brisa,
estende-se por acaso
da tarde à noite, a acalmia
talvez pela areia
de fogo,
a infinita
praia deserta,
de forma a
que não acabe,
talvez,
este silêncio,
nunca?
- eliseo diego -
este silêncio,
branco, ilimitado,
este silêncio
do mar tranquilo, imóvel,
de repente
rompem os leves caracóis
por um impulso da brisa,
estende-se por acaso
da tarde à noite, a acalmia
talvez pela areia
de fogo,
a infinita
praia deserta,
de forma a
que não acabe,
talvez,
este silêncio,
nunca?
- eliseo diego -
Etiquetas:
bang bang,
eliseo diego,
ryuichi sakamoto
quarta-feira, 5 de maio de 2010
kaoru izima vs metric
- metric -
(help i'm alive)
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
- kaoru izima -
Etiquetas:
homebrew exhibition,
kaoru izima,
metric
Subscrever:
Mensagens (Atom)