segunda-feira, 20 de julho de 2009

luigi pirandello vs akira kurosawa + anouar brahem

o homem da flor: (...) eu digo-lhe que preciso de me agarrar
através da imaginação à vida alheia, mas assim, sem prazer,
sem me interessar nada por ela, pelo contrário... pelo contrário...
para lhe sentir o fastio, para julgá-la insípida e fútil, a vida. a tal
ponto que não deva ter importância para ninguém por-lhe um
fim.
com raiva contida:
e era isso que era de demonstrar, está a ver? com provas e
exemplos contínuos, a nós próprios, implacavelmente. porque,
caro senhor, nós não sabemos de que coisa é feito, mas é que,
é que, todos o sentimos aqui, como um nó na garganta, o sabor
da vida, sempre insatisfeita, que nunca se pode satisfazer,
porque a vida, no próprio acto de a vivermos, é assim, sempre
ávida de si mesma, não se deixa saborear. o saber está no
passado, que permanece vivo cá dentro. o gosto da vida
vem-nos daí, das recordações que nos têm amarrados. mas
amarrados a quê? a esta sensaboria aqui... a este tédio...
a tantas estúpidas ilusões... insípidas ocupações... sim, sim.
isto que agora, aqui, é uma sensaboria... isto que agora é
para nós uma desventura, uma verdadeira desventura...
sim senhor, à distância de quatro, cinco, dez anos, quem sabe
que sabor terá tomado... que gosto, estas lágrimas... e a vida,
santo deus, só o pensar em perdê-la... especialmente quando
se sabe que é uma questão de dias... (...)

- luigi pirandello -
(o homem da flor na boca)


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- akira kurosawa-
(ikiru)

- anouar brahem -
(talwin)

2 comentários:

Frioleiras disse...

(maravilha das maravilhas........)

Anónimo disse...

lembrei-me de Velho Tema, de Vicente de Carvalho...

Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos