quinta-feira, 23 de julho de 2009

fiódor dostoiévski vs wim wenders + kaki king

oh, digam-me quem foi o primeiro que anunciou, o primeiro
a proclamar que o homem só comete baixezas porque não
compreende os seus verdadeiros interesses, e que se o
instruíssem sobre esse ponto, se lhe abrissem os olhos
sobre o seu verdadeiro interesse, sobre o seu interesse
normal, tornar-se-ia imediatamente bom e generoso! e isto
pela simples razão de que, sendo inteligente, se conseguisse
conhecer o que é vantajoso, só encontraria o bem; e como
o homem não pode actuar contra o seu interesse, com
conhecimento de causa, havia portanto de conduzir-se
necessariamente bem. oh! criança inocente e pura! mas
quando se deu através dos séculos, pela primeira vez, o
caso de que o homem actuasse somente consultando o
seu interesse? não tem valor nenhum os milhões de factos
que testemunham que os homens informados, isto é,
conhecedores dos verdadeiros interesses, os desdenham
e se atiram à aventura por outros caminhos onde, sem que
ninguém os obrigue, se expõem a riscos e a perigos, como
se quisessem deliberadamente desviar-se do bom caminho
para abraçar de propósito outro mais difícil e absurdo, que
hão-de procurar às cegas? é assim evidente que essa
teimosia e independência de acção lhes são mais
agradáveis do que todas as vantagens? são capazes de
definir exactamente a que se resume a vantagem para o
homem? e se, no entanto, pudesse acontecer alguma vez
que a vantagem para o homem consistisse, e não só
consistisse como tivesse de consistir, na circunstância
de ter de desejar-se o que é prejudicial e não o que é
vantajoso? se assim fosse, se pudesse dar-se um caso
semelhante, a regra dos senhores ficaria anulada.
admitem os senhores a possibilidade de casos
semelhantes? estão a rir-se? riam-se como quiserem,
meus senhores, mas respondam: os interesses do homem
estão perfeitamente definidos? não há, entre esses
interesses, alguns que não foram incluídos nem poderão
nunca sê-lo em nenhuma classificação? pelo que sei,
os senhores traçaram a sua lista dos interesses humanos
relativamente a uma média tirada das estatísticas, das
fórmulas científicas e económicas.
(...)
o nosso próprio desejo, voluntário e livre; o nosso próprio
capricho, ainda mais irreflectido; a fantasia desenfreada até
raiar a extravagância: eis em que consiste a vantagem,
grosso modo, o interesse mais importante, que não se
inclui em nenhuma classificação e que manda passear
todos os sistemas e teorias. como puderam imaginar todos
esses sábios que o homem precisa de uma vontade normal
virtuosa? onde foram buscar essa ideia de que o homem só
precisa de desejar de maneira sensata e proveitosa? o
homem só precisa de uma coisa: querer com independência,
custe o que custar essa independência e quaisquer que
sejam as consequências que dela derivem. mas no fim de
contas, só o diabo deve saber o que o homem deseja...

- fiódor dostoiévski -
(o subterrâneo)


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- wim wenders -
(der himmel über berlin)

- kaki king -
(doing the wrong thing)

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