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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

italo calvino vs jan jelinek

foi logo na montra da livraria que descobriste a capa com
o título que procuravas. atrás desta pista visual, lá foste
abrindo caminho pela loja dentro através da barreira
cerrada dos livros que não leste, que de cenho franzido te
olhavam das mesas e das estantes procurando intimidar-te.
mas tu sabes que não te deves deixar assustar, que no meio
deles se estendem por hectares e hectares os livros que
podes passar sem ler, os livros feitos para outros
usos para
além da leitura, os livros já lidos sem ser
preciso sequer
abri-los por pertencerem à categoria
do já lido ainda
antes de ser escrito. e assim transpões
a primeira muralha dos baluartes e cai-te em cima
a infantaria
dos
livros que se tivesses mais vidas para viver
certamente lerias também de
bom grado mas
infelizmente os dias que tens para viver são
os que
tens contados
. com um movimento rápido passas por cima
deles e vais parar ao meio das falanges dos livros que tens
a intenção de ler mas antes deverias ler outros
, dos
livros demasiado caros que podes esperar comprar
quando
forem vendidos em saldo, dos livros idem
idem aspas aspas
quando forem reeditados em for-
mato de bolso
, dos livros que podes pedir a alguém
que te empreste
e dos livros que todos leram e por-
tanto é quase como se também os tivesses
lido. esca-
pando a estes assaltos, avanças para diante das torres do re-
duto, onde te opõem resistência
os livros que há muito tempo programaste ler,
os livros que há anos procuravas sem os encontrares,
os livros que tratam de alguma coisa de que te ocupas
neste
momento,
os livros que queres ter para estarem à mão em
qualquer
circunstância,
os livros que poderias pôr de lado para leres se calhar
este verão
,

os livros que te faltam para pores ao lado de outros
livros
na tua estante,
os livros que te inspiram uma curiosidade repentina,
frenética e não claramente justifica
da
.
e lá conseguiste reduzir o número ilimitado das forças em
campo a um conjunto sem dúvida ainda muito grande mas já
calculável num número finito, mesmo que este relativo alívio
seja atacado pelas emboscadas dos livros lidos há tanto
tempo
que já seria altura de voltar a lê-los e dos livros
que dizes
sempre que leste e seria altura de te decidires
a lê-los mesmo
.

- italo calvino -
(se uma noite de inverno um viajante)

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- jan jelinek -
(tendency)

sábado, 10 de outubro de 2009

ruy belo vs jan jelinek

a missão das folhas

naquela tarde quebrada
contra o meu ouvido atento
eu soube que a missão das folhas
é definir o vento

- ruy belo -


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- jan jelinek -
(moiré [piano & organ])

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

almada negreiros vs jan jelinek

a sombra sou eu

a minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre lá, sempre às portas de mim!

- almada negreiros -

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- jan jelinek -
(do dekor)