as velas da memória
há nos silvos que as manhãs me trazem
chaminés que se desmoronam:
são a infância e a praia os sonhos de partida
abrir esse portão junto ao vento que vida
aquém ou além desta me abre?
em que outro mundo ouvi o rouxinol
tão leve que o voo lhe aumentava as asas?
onde adiava ele a morte contra os dias
essa primeira morte?
vinham núpcias sem conto na inconcebível voz
que plenitude aquela: cantar
como quem não tivesse nenhum pensamento.
quem me deixou de novo aqui sentado à sombra
deste mês de junho? como te chamas tu
que enfunas as velas da memória ventilando: «aquela vez...»?
quando aonde foi em que país?
que vento faz quebrar nas costas destes dias
as ondas de de uma antiga música que ouvida
obriga a recuar a noite prometida
em círculos quebrados para além das dunas
fazendo regressar rebanhos de alegrias
abrindo em plena tarde um espaço ao amor?
que morte vem matar a lábil curva da dor?
que dor me faz doer de não ter mais que morrer?
e ouve-se o silêncio descer pelas vertentes da tarde
chegar à boca da noite e responder.
- ruy belo -
- joaquin sorolla y bastida -
(sailboat)
- broken social scene -
(her disappearing theme)
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