segunda-feira, 21 de setembro de 2009

antonio tabucchi vs moondog

actor:
mas onde está a poesia?
nas pedras, na erva, nos corações?
procuro-a em tudo o que existe,
até na própria matéria, mas ela é surda,
baça... indiferente.

pausa. com um tom muito irónico:
ah, a poesia, que consola
de nada se saber.
económica ilusão
de mim, de vós, da lua.
julgar sentir que o que se sente existe,
que tem uma verdade sua, um lugar seu no ser.
chego à janela,
há a cidade...
e o mundo.
mas não ouvis este rumor?
são rugidos de canhões,
a destruição, a morte,
que sobre nós pairam
comandadas pelos homens de bom senso.
não sabem que o mundo é mundo
para ser posto em dúvida, crêem,
batalham, e também nós
por isso
morremos.

muito baixo:
ou então
outra será a nossa morte,
mais paciente, com pezinhos de lã.
nada há que nos defenda
da dispersão do eterno...
qual poeira errante
vaguearemos
no vazio deste universo,
sem a menor consciência
de tudo aquilo que não fomos...

pausa.
e neste hipotético
estádio a que se chama
entretanto
buscamos a poesia...

pausa.
será isto a poesia?
viver o nosso entretanto?
será este entremez que vos recito esta noite
só porque me tolerais
e não tendes mais nada para fazer?...
este entremez faz parte
da verdadeira comédia que dia a dia
recitamos,
recitais,
e que nos espera
ao sairmos desta sala.

vai ao armário, pega na gabardina e no chapéu, avança para a porta.

- antónio tabucchi -
(chamam ao telefone o senhor pirandello)



Photobucket

- moondog -
(marimba mondo 2: seascape of the whales)

2 comentários:

carlos veríssimo disse...

"e que nos espera
ao sairmos desta sala."

where the streets have no name
where no name have no where
no streets have name where no

where no
no where

e por aí adiante

menino mau disse...

:)