actor:
mas onde está a poesia?
nas pedras, na erva, nos corações?
procuro-a em tudo o que existe,
até na própria matéria, mas ela é surda,
baça... indiferente.
pausa. com um tom muito irónico:
ah, a poesia, que consola
de nada se saber.
económica ilusão
de mim, de vós, da lua.
julgar sentir que o que se sente existe,
que tem uma verdade sua, um lugar seu no ser.
chego à janela,
há a cidade...
e o mundo.
mas não ouvis este rumor?
são rugidos de canhões,
a destruição, a morte,
que sobre nós pairam
comandadas pelos homens de bom senso.
não sabem que o mundo é mundo
para ser posto em dúvida, crêem,
batalham, e também nós
por isso
morremos.
muito baixo:
ou então
outra será a nossa morte,
mais paciente, com pezinhos de lã.
nada há que nos defenda
da dispersão do eterno...
qual poeira errante
vaguearemos
no vazio deste universo,
sem a menor consciência
de tudo aquilo que não fomos...
pausa.
e neste hipotético
estádio a que se chama
entretanto
buscamos a poesia...
pausa.
será isto a poesia?
viver o nosso entretanto?
será este entremez que vos recito esta noite
só porque me tolerais
e não tendes mais nada para fazer?...
este entremez faz parte
da verdadeira comédia que dia a dia
recitamos,
recitais,
e que nos espera
ao sairmos desta sala.
vai ao armário, pega na gabardina e no chapéu, avança para a porta.
- antónio tabucchi -
(chamam ao telefone o senhor pirandello)
- moondog -
(marimba mondo 2: seascape of the whales)
2 comentários:
"e que nos espera
ao sairmos desta sala."
where the streets have no name
where no name have no where
no streets have name where no
where no
no where
e por aí adiante
:)
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