terça-feira, 13 de abril de 2010

mircea dinescu vs the ting tings

a viagem

para descer a rua com a arte
não uses o mesmo elevador escangalhado
em que se acertaram tantos negócios duvidosos...
renuncia primeiro à poesia
e terás menos dores de estômago.
podes por cinismo prolongar a tua vida
podes substituir a palavra pelo acaso
podes atirar a língua ao sol como uma edição príncipe
podes levar (polindo todos os dias alguns gramas)
a torre eiffel para a cave.
o suicídio já não resulta.
para te tornares poeta célebre na europa
é preciso ser pelo menos canibal,
ou propor uma solução louca para o florescimento do sara
(que sejam enviados para lá os que têm água
nos pulmões, por exemplo).
os doidos passivos já não têm procura:
se casares com uma máquina de picar carne
haverá uma empresa americana
a pagar-te a viagem de lua de mel
com a condição de dar à luz filhos picantes e sem sabor
como o seu célebre hamburger...
a sociedade de consumo humilha-te no inverno com as
melancias
e no verão cansas-te levando ovos dentro do sobretudo
para as solistas da metropolitan.
dormes à beira do sena
e de repente cheira-te ao dimbovista,
acordas provinciano
achas que se virares numa ruela em montparnasse
começa bucareste.
não parece fácil perceber
que a poesia já não precisa de papel
que uma bala se ouve mais do que um livro
que os dentistas os mecânicos as cabeleireiras e os
aviadores
os empregados os engenheiros os professorzinhos os
almirantes e os varredores ricos
com justa razão se recusam a ler sonetos,
porque o objectivo supremo é ser parente das nódoas de
gordura da sopa,
ou seja estar sempre ao de cima.

- mircea dinescu -


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- the ting tings -
(fruit machine)