serão tristes as oliveiras?
aquela senhora que conheci no comboio, olhando pela
janela, disse-me a certa altura que a oliveira é uma árvore
triste. olhei também e estive quase a concordar. agora feli-
cito-me, porque não foi preciso. lembro-me que a senhora
ia vestida de preto. talvez lhe tivesse morrido alguém. às
oliveiras daquele olival que passava lá fora é que eu tenho a
certeza de que não faltava nada: nem sol, nem uma leve brisa,
nem um fruto grado, prometedor. e perguntei para mim, ao
descer do comboio:
- porque maltratamos as oliveiras?
- ruy belo -
- johann johannsson -
(fordlandia - aerial view)
2 comentários:
as oliveiras são das minhas árvores favoritas, mas a princípio não gostava delas. uma noite, a olhar para uma, pareceu-me que tinha folhas de pedra. depois afastei-me, vi uma escultura toda rendilhada e aquele peso de pedra comoveu-me. compreendi o peso das folhas, a razão pela qual eram menos vulneráveis ao vento, em comparação com as folhas de outras árvores. e fiquei fascinada com a dualidade: as árvores são leves porque são do sol, dos dias, e porque crescem em direcção ao céu. mas a oliveira tem um ar contido, um ar circunspecto, e cores claras de pedra que fazem sentido contra o céu negro da noite.
tudo isto demorou menos de cinco minutos, ao fim dos quais eu estava apaixonada.
mais tarde achei-as lindas também de dia. não diria que são árvores tristes, mas parecem-me solenes.
mais tarde descobri as oliveiras do paraíso, que perfumam tudo à volta delas. têm folhas mais leves, igualmente verde-prata, cheias de brilhantes. na primavera e no verão, sem querer, acabo sempre com uma colecção de folhas secas de oliveira do paraíso no fundo das malas porque, sempre que passo por uma, trago uma folha. é lindo, o brilho verde prateado com textura de areia.
adorei o teu comentário, Cristiana.
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