[...]
uma das escolas de tlön chega a negar o tempo: raciocina
que o presente é indefinido, que o futuro não tem reali-
dade senão como esperança presente, e que o passado não
tem realidade senão como recordação presente*. outra es-
cola declara que já decorreu todo o tempo e que a nossa
vida é apenas a lembrança ou reflexo crepuscular, e sem
dúvida falseado e mutilado, de um processo irrecuperável.
outra, que a história do universo - e nela as nossas vi-
das e o pormenor mais ténue das nossas vidas - é a es-
crita que produz um deus subalterno para se entender com
um demónio. outra, que o universo é comparável a essas
criptografias em que não valem todos os símbolos e que
só é verdade o que sucede de trezentas em trezentas noi-
tes. outra, que enquanto dormimos aqui, estamos acorda-
dos noutro lado e que assim cada homem é dois homens.
[...]
*russell (the analysis of mind, 1921, página 159) supõe
que o planeta foi criado há poucos minutos, provido de
uma humanidade que «recorda» um passado ilusório.
- jorge luis borges -
(tlön, uqbar, orbis tertius)
- tame impala -
(solitude is bliss)
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