a janela
uma das janelas de calvino, a com melhor vista para a
rua, era tapada por duas cortinas que, no meio, quando
se juntavam, podiam ser abotoadas. uma das cortinas, a
do lado direito, tinha botões e a outra, as respectivas
casas.
calvino, para espreitar por essa janela, tinha primeiro
de desabotoar os sete botões, um a um. depois sim, afas-
tava com as mãos as cortinas e podia olhar, observar o
mundo. no fim, depois de ver, puxava as cortinas para a
frente da janela, e fechava cada um dos botões. era uma
janela de abotoar.
quando de manhã abria a janela, desabotoando, com len-
tidão, os botões, sentia nos gestos a intensidade eró-
tica de quem despe, com delicadeza, mas também com an-
siedade, a camisa da amada.
olhava depois da janela de uma outra forma. como se o
mundo não fosse uma coisa disponível a qualquer momen-
to, mas sim algo que exigia dele, e dos seus dedos, um
conunto de gestos minuciosos.
daquela janela o mundo não era igual.
- gonçalo m. tavares -
(o senhor calvino)
- giant sand -
(ploy)
2 comentários:
gostei bastante do texto. vim parar em seu blog através de outro blog. feliz viagem a que fiz!
obrigago, e espero q a viagem continue a ser boa :D
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