uma noite do rio
trata-se, quero supor, de um gesto simpático de hollywood,
em relação a nós. a gente assiste aquela patacoada toda,
vê efêmeras paisagens cariocas, fica furioso de saber como
carmen miranda procede, e sai em branca nuvem.
o filme em si não vale nada. é uma velha, velhíssima histó-
ria de cinema falado, que chevalier já fez, e que tem sido
milhares de vezes repisada. carmen miranda aparece como
qualquer coisa de exótico, agreste, escarlate. fala e faz
mais trejeitos que um esquizofrênico sob um choque de car-
diasol. pensando bem, carmen miranda é um hindu, mais que
uma brasileira. são turbantes coloridos, braços como ser-
pentes, mãos como cabeças de najas.
é tão prodigioso, que carmen miranda não consegue apenas
ser o hindu - consegue ser o hindu e a serpente, coisa que
em matéria iogue é da mais alta importância.
[...]
- vinicius de moraes -
(a manhã, 1941)
- the middle east -
(blood)
2 comentários:
Eu devo ser uma exceção, mas desde criança simplesmente detesto essa tal de carmen miranda. Acho-a um saco, completamente brega, cafona, ridícula com tanta tranqueira e penduricalho. Até hoje não consegui entender o que viram nessa mulher, em que até a voz dá azia em sonrisal!
carmen miranda = kitsch. não é para levar a sério, tal como esta crónica de vinicius de moraes bem sublinha. ;)
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